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    O dia em que cortaram as pernas a Maradona

    Texto por Ricardo Miguel Gonçalves
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    O abuso de substâncias ilegais é uma parte incontornável da história de Diego Armando Maradona. O legado de um génio, impossível de replicar ou até mesmo compreender completamente, permanentemente manchado pela cada vez mais turva perceção pública.

    Com a notícia do vício em cocaína a chegar às ruas, seguido de inúmeras confirmações dessa realidade, a euforia generalizada dos adeptos de futebol foi diluída em alguma aversão. De um momento para outro, um futebolista idolatrado por meio Mundo tornou-se, permanentemente, numa das personalidades desportivas mais polarizadoras. 

    Desde meados dos anos 80 que Maradona foi condenado a viver na corda-bamba que separava um «deus» de um «drogado». Em 1991 chegou a ser banido de todo o futebol por 15 meses devido a um teste positivo a cocaína, mas foi três anos mais tarde, no Mundial de 1994, que esta história se passou. O dia em que o controlo de doping cortou as pernas ao 10 argentino, que encerraria a sua carreira internacional de uma forma que em muito condiz com o seu modo de operar.

    Um regresso de classe Mundial

    Após concluída essa primeira suspensão de 15 meses, Maradona não encontrou facilidades para regressar à equipa da Argentina. Foram pouquíssimos os jogos em que participou entre os dois Campeonatos do Mundo, sendo que nem sequer fez parte da equipa que disputou a qualificação para o Mundial de 1994.

    O motivo prendia-se, mais até do que num nível de forma bem abaixo daquele outrora revelado, em problemas internos entre o jogador e a federação argentina (AFA), mas a pressão dos povo acabou por ter influência. A Argentina estava longe do seu melhor nível e, acumulando exibições desencorajadoras, os adeptos ficaram cada vez mais incomodados com o facto de que o melhor jogador da história do país estava na bancada, como adepto, e não em campo.

    Devido a essa insistência pública, Alfio Basile voltou a convocar Maradona, a tempo deste ajudar a albiceleste a garantir o bilhete para os Estados Unidos através do play-off: um empate na Austrália (1-1) com assistência do 10 e uma vitória em casa (1-0) foi, por pouco, o suficiente para o país suspirar de alívio.

    Numa altura em que já tinha regressado ao futebol argentino para representar o Newell’s, ainda sem grande sucesso, Maradona começou a trabalhar para melhorar os índices físicos e tentar chegar ao Mundial em melhor forma do que aquela que vinha a apresentar no futebol doméstico. Com alguns meses de trabalho, voltou a apresentar-se mais esguio, veloz e, acima de tudo, limpo. Pronto para dominar os relvados norte-americanos.

    Foi precisamente isso que aconteceu. Logo no primeiro jogo, Maradona deu a garantia de que seria uma das figuras da prova. Um 4-0 à Grécia, com el pibe a registar uma excelente exibição, que temperou com um golo e uma celebração icónica. O segundo jogo seria igualmente bom, mas teve um final amargo…

    @Getty / Michael Kunkel

    Travão de efenedrina

    No segundo jogo da fase de grupos, a Argentina teve pela frente a seleção da Nigéria e o 10 voltou a brilhar no palco internacional, com uma assistência. Uma vitória por 2-1 valeu a qualificação para a fase seguinte e o regresso de Maradona à seleção já era considerado um sucesso inquestionável. Até que deixou de ser.

    Após o apito final, Maradona saiu do relvado pela mão de uma enfermeira. Tinha sido escolhido para o controlo antidoping e a saída foi feita com um sorriso. O jogador estava tranquilo. Afinal, tinha passado os últimos meses num estilo de vida imaculado! Ainda assim, as coisas acabaram por não correr da melhor forma.

    Foi no dia seguinte que os resultados do exame à urina foram conhecidos (e rapidamente disseminados). Foi encontrada efenedrina, uma substância que nessa altura ainda estava banida pela FIFA, e o caos instalou-se rapidamente.

    Tratava-se de um composto químico presente em certos medicamentos perfeitamente legais, mas a reputação de Maradona não lhe fez favores aos olhos do público. Quem o questionava a moralidade do craque via as suas suspeitas novamente confirmadas, e quem o idolatrava, especialmente no seu país, chorava. Diego negou ter utilizado qualquer substância banida, jurou até pelas filhas, mas sem sucesso. Mais tarde, chegaria a informação que havia nos testes mais quatro substâncias não permitidas: norefedrina, pseudofedrina, norpseudofedrina e metaefedrina.

    «Cortaram-me as pernas. Tenho a alma destroçada». Foi esta a frase de Maradona alguns dias depois, quando confirmada a sua suspensão. Novamente de 15 meses. O duelo contra a seleção nigeriana seria, para sempre, o último pela albiceleste.

    Sem as pernas do maior craque, a Argentina deixou de marcar passo. Perdeu o derradeiro duelo da fase de grupos, frente à Bulgária (0-2), e na fase a eliminar caiu imediatamente perante a seleção romena (3-2). Um final desapontante para a campanha argentina, tal como a carreira internacional de Diego Armando Maradona.

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