placardpt
    História
    Casos

    Christoph Daum: o pai dos treinadores alemães, um dia traído pela cocaína

    Texto por Luís Rocha Rodrigues
    l0
    E0

    Naggelsmann até já pode ser descendente da geração de Klopp ou Tuchel, mas, no fundo, todos têm estado no mais alto patamar do futebol. Quando alguns dizem que os treinadores portugueses são dos mais evoluídos do mundo, outros respondem que os alemães são os que estão à frente. Não queremos entrar nessa discussão, nada disso. Estamos por Leverkusen e, por isso, sentimos obrigação de falar de Christoph Daum, um vanguardista que por um fio não teve uma carreira bem maior. Foi mesmo por um fio... de cabelo.

    O alemão vivia, no final da década de 90, uma fase muito fulgurante. Depois de ter sido campeão no Estugarda, em 1992, e de ter passado pelo futebol turco, abraçou o projeto do Bayer Leverkusen para formar uma equipa finalmente capaz de lutar pela Bundesliga. Desafio aceite, desafio cumprido. Em quatro anos, por três vezes ficou em 2.º lugar e na outra vez foi 3.º. Lançou jogadores como Michael Ballack, fez explodir outros, como Zé Roberto, jogou a Liga dos Campeões e, com muito menos recursos que os mais endinheirados, andou perto, muito perto de ser campeão - leia aqui a história do «clube do quase».

    Otto Rehhagel surpreendeu com o incrível título no Kaiserslautern, em 1998, Ottmar Hitzfeld ganhou tudo no Bayern, só que esses já eram treinadores de outra geração. Com consistência, futebol atrativo e uma muito interessante capacidade para lidar com os jogadores, Daum impunha-se na ribalta alemã. Era, numa opinião generalizada, o melhor.

    Mesmo sem a conquista de títulos, o objetivo tinha sido alcançado em Leverkusen. Perante o descalabro da participação alemã no Euro 2000, só com um ponto no grupo de Portugal, Roménia e Inglaterra, Erich Ribbeck (outro histórico do Bayer, por causa da conquista da Taça UEFA de 1988) fez as malas.

    Convite endereçado a Daum, proposta aceite, fumo branco... havia novo selecionador!

    O «maior escândalo do futebol alemão»

    Quando a notícia se soube, muitos a aplaudiram... mas nem todos. De Munique veio a crítica mais feroz: «A Federação não pode fazer campanhas contra o uso de drogas e depois escolher alguém que talvez tenha algo a ver com isso».

    Não era um jornal ou algum adepto que o dizia. Era o mítico Uli Hoeness, então diretor desportivo dos bávaros. E não era somente uma crítica, era uma acusação, com notório levantamento de suspeitas. Christoph Daum não teria, ao que se murmurava, um percurso totalmente exemplar, porque algo o envolvia à cocaína.

    Rebentou a bomba!

    Última etapa foi na seleção da Roménia
    Daum ainda tinha contrato com o Bayer Leverkusen até 2001 e só nessa altura assumiria o comanda da Mannschaft, que ficaria a cargo de Ruddi Völler de forma interina. Só que este assunto não poderia ser adiado. O que fez o próprio Daum? Voluntariou-se para fazer um teste que esclarecesse toda a questão e que lhe imaculasse a imagem.

    Só que o tiro saiu-lhe pela culatra. O teste, através de um fio de cabelo, deu positivo.

    Contrato rescindido com o Bayer Leverkusen, contrato anulado pela federação alemã e a queda com estrondo de um dos maiores da Alemanha, naquela altura.

    Voltaria muitos anos depois, subiria o Colónia à Bundesliga (2009), mas nunca mais com a reputação dos anos 90. O rótulo ficou e a carreira foi-se, mesmo que tenha ainda sido bicampeão na Turquia pelo Fenerbahçe (2004 e 2005).

    Assunção da culpa

    Naquele dramático outono de 2000, em que o mundo lhe desabou em cima, Daum refugiou-se na Flórida para evitar o circo mediático. Mas voltaria. Ainda nos Estados Unidos, fez novo teste mais tarde, que daria negativo, o que o fez voltar à Alemanha para encarar o problema de frente.

    A conferência em que reconheceu o vício @Getty /
    Desde logo, chamou os jornalistas e reconheceu, publicamente, ter tido o vício da cocaína, isto numa altura em que já estava a ser investigado pelo Ministério Público de Koblenz. Foi acusado em 63 casos por compra e posse ilegal de cocaína, num julgamento que começou em outubro de 2001 e que foi encerrado em maio de 2002, após 30 sessões.

    Daum foi condenado ao pagamento de 10 mil euros e veria, nesse verão, a Alemanha chegar à final do Mundial, que perderia para o Brasil (0-2). A carreira não voltou ao fulgor que tivera em Leverkusen.

    D

    Fotografias(5)

    Comentários

    Gostaria de comentar? Basta registar-se!
    motivo:
    EAinda não foram registados comentários...
    Tópicos Relacionados