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    Davide Astori: Per sempre, nostro capitano

    Texto por Gaspar Castro e Rodrigo Coimbra
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    «A tua filha merece saber que o pai era, em todos os aspetos, uma pessoa perfeita. Uma pessoa perfeita que era a imagem dos valores de um mundo passado, que valorizava o altruísmo, a elegância, a educação e o respeito pelos outros (…) Foste uma das melhores figuras que encontrei no desporto. Descansa em paz» - Buffon sobre Astori

    4 de março de 2018. Em estágio num hotel em Udine, todos os jogadores do plantel da Fiorentina descem para tomar o pequeno almoço no hotel, exceto o capitão Davide Astori. Sozinho num quarto, o defesa não respondeu às chamadas e nada fazia prever o final trágico.

    Astori foi encontrado sem sinais de vida no quarto. Morte súbita. Segundo a autópsia, o jogador sofreu uma fibrilação ventricular por cardiomiopatia arritmogénica, um problema que, segundo o estudo do Departamento de Cardiologia, Ciências Torácicas e Vasculares da universidade de Udine, era hereditário. Nestes casos, o risco de morte aumenta cinco vezes em jovens que têm o problema e que praticam desporto. Astori foi sempre dado como apto para a competição. Nunca acusara algum problema cardíaco.

    «Naquela manhã, o meu marido e eu planeámos ir à missa e depois votar, mas eu acordei com os meus braços paralisados, com frio, com o corpo vazio, com um sentimento que nunca tive na vida. Eu não sabia de nada, mas ao mesmo tempo era como se soubesse de tudo», disse a mãe do malogrado jogador da Fiorentina.

    A carreira de Astori

    Nascido a 7 de janeiro de 1987 em San Giovanni Bianco, no norte de Itália, Davide Astori dedicou-se desde cedo ao futebol. Fez quase toda a formação nos escalões jovens do Milan mas não chegou a estrear-se pela equipa principal dos rossoneri, tendo sido emprestado a dois emblemas de escalões inferiores enquanto jovem.

    Nas Confederações, em 2013 @ Glauber Queiroz/Portal da Copa
    Foi na ilha da Sardenha que Astori conseguiu chegar ao topo no futebol italiano. Assinou pelo Cagliari em 2008, então com 22 anos, e fez do clube a sua casa durante seis temporadas, tendo nesse período conseguido chegar à seleção italiana.

    A ligação ao Cagliari prolongou-se por um total de oito épocas, sendo que as últimas duas foram de cedências a Roma e Fiorentina. Foi somando presenças ocasionais na seleção azzurra, tendo como ponto alto o golo apontado na Taça das Confederações de 2013 frente ao Uruguai, no jogo que valeu o terceiro lugar do torneio para a Itália. Ao todo somou 15 internacionalizações.

    Passou pela Roma @Getty / Maurizio Lagana
    Na Fiorentina atingiu um estatuto especial, tendo conquistado a braçadeira do emblema viola no início da temporada que atravessamos.

    «Quando preciso, digo o que penso»

    Ainda antes de lhe ser atribuído o papel de destaque no plantel viola, Davide Astori falava ao jornal La Nazione e demonstrava as características que a equipa técnica viria a recompensar com a braçadeira.

    Afirmou-se naturalmente em Florença @Paolo Bruno / Getty Images
    «Não sei se sou um líder, mas certamente que quando preciso, digo o que penso. Não quero parecer presunçoso, mas sinto-me um jogador importante neste grupo». O treinador Stefano Pioli concordou, e também o irmão, Marco Astori, falava ao site ViolaNews sobre um jogador com perfil de capitão.

    «Tem o caráter e a personalidade certos para isso», garantia Marco em julho de 2017, falando também da felicidade do irmão Davide em Florença: «Está muito contente por viver em Florença, gosta de lá estar. Nasceu lá a sua filha. Está muito contente».

    A família Astori conta com vários amantes e praticantes do futebol, mas Davide Astori era, sem dúvida, aquele que mais longe havia chegado no desporto. Ainda assim, havia paixões além do futebol no coração do defesa. «Interessa-se muito por arquitetura», explicava então o irmão Marco. «É uma pessoa tranquila e reservada. Sente-se bem com os velhos amigos. Também é apaixonado por tecnologia e música. Já o futebol é algo que é de família».

    Traído pelo coração

    Aos 31 anos, e sem nada o fazer prever, Astori foi traído pelo coração, enquanto descansava no quarto de hotel. No dia em que iria cumprir em Udine o jogo número 394 da sua carreira como futebolista profissional, o 110º com a camisola da Fiorentina. Deixou a mulher viúva e uma filha de apenas dois anos.

    Funeral foi momento emocionante @Getty / Gabriele Maltinti
    «Oh capitão, meu capitão. Por que não desceste para tomar o pequeno-almoço connosco? Porque não foste ao quarto do Marco buscar os teus sapatos ou não vieste ter connosco tomar o teu sumo de laranja habitual? Agora dizem-nos que a vida tem de seguir, que devemos olhar em frente, que temos de nos levantar, mas, que sabor terá a tua ausência? Quem chegará a cada manhã para aquecer o ambiente com um sorriso? Quem nos vai perguntar o que fizemos na última noite e por que razão demos gargalhadas? Volta para Florença, estão à tua espera para renovar o contrato e aproveitar todo o conhecimento e espírito positivo que tens. Sai do raio desse quarto, vamos estar à tua espera no treino de amanhã», escreveu o companheiro Riccardo Saponara em homenagem a Astori.

    Sete dias após a perda do malogrado Davide, a Fiorentina regressou ao Artemio Franchi para um jogo de emoções fortes e com vários momentos de homenagem ao capitão italiano que perdeu a vida a 4 de março, quando a equipa estava reunida no estágio de preparação para o encontro da 27.ª jornada da Serie A italiana.

    Buffon também marcou presença @Getty / Gabriele Maltinti
    Arrepiante. Os jogadores da equipa viola entraram em campo a envergar a camisola 13 – Fiorentina e Cagliari retiraram este dorsal - e o público cumpriu de forma rigorosa o minuto de silêncio em memória de Astori. A carga emotiva era forte e ao minuto 13 a bola foi enviada para fora do relvado e voltou a cumprir-se um momento de profundo pesar, num gesto bonito e de enorme respeito por um jogo que é muito mais importante que todos os outros: a vida.

    O conjunto de Florença queria mais do que nunca conquistar os três pontos naquele dia, para oferecer ao capitão, e lutou com todas as forças por esse objetivo. O lado inconsciente complicou em alguns momentos o jogo contra o Benevento, mas o golo apareceu mesmo ao minuto 25, por intermédio de Vítor Hugo, camisola 31, precisamente o homem que usava os números que Astori usava, invertidos, o um e o três, e que jogou ao lado de Astori no eixo da defesa no último jogo do italiano.

    A saudade é eterna

    Astori era verdadeiramente importante em Florença. Para a Fiorentina. Após o trágico final, o clube não abandonou a família do seu capitão, apoiando-a em vários momentos, sobretudo na criação de um fundo de apoio à filha Vittoria, tendo ainda dedicado uma outra homenagem: «Vamos dedicar a nossa cidade desportiva ao Davide porque esta é a sua casa. Por isso, chamar-se-á Centro Desportivo Davide Astori. Esta é só a primeira iniciativa que manterá viva a memória de uma pessoa especial», revelou o presidente dos viola Mario Cognini.

    @Getty /
    |Ninguém esquece o 13Il Capitano partiu, mas deixou o seu lugar. Na memória e coração de quem teve a oportunidade de privar com ele.

    «O Davide [Astori] foi uma pessoa fundamental no meu crescimento - como pessoa e como jogador de futebol - era um homem e um líder fantástico [...]. Ainda não tirámos nada do balneário, temos o armário com tudo. O lugar dele é próximo do meu e uma vez umas crianças se quiseram sentar eu disse: Desculpem, esse lugar está ocupado. Aquele lugar vai estar sempre ocupado», disse Federico Chiesa, um ano após a morte de Astori.

    Per sempre, nostro capitano.

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