Há dias em que ninguém consegue explicar o que aconteceu. O Boavista venceu por 1-4 em Vizela, num jogo onde a eficácia dos azuis e a felicidade dos axadrezados estiveram em polos opostos. Os da casa começaram dominadores, mas o Boavista congelou Vizela com dois golos em contragolpe.
O filme repetiu-se no segundo tempo, sendo que o tento de trás do meio-campo de Abascal desacreditou os de rainha ao peito. Bozenik aumentou as contas de uma partida inglória para o Vizela e em que os boavisteiros foram pragmáticos. Essende ainda reduziu, mas de nada valeu.
A entrada do Vizela impôs respeito e notou-se uma influência clara de Rúben de la Barrera na equipa vizelense. Com um jogo mais posicional, de pé para pé, a procurar brechas na compacta defesa boavisteira. Essende isolou-se e atirou ao ponte, ainda com desvio de João Gonçalves. Depois, na sequência de uma jogada da direita, novamente Essende voltou a desperdiçar. Abdul e Samu também tentaram de longe, mas a bola ia saindo ao lado.
O Boavista, retraído no seu 4-5-1, tentava aproveitar a velocidade de Tiago Morais nas costas da defesa (alta) dos minhotos. O internacional sub-21 português ameaçou uma vez, e à segunda surgiu o golo. Isolou-se da direita, serviu para dentro, e Sasso, finalizou com a baliza aberta.
A estratégia vizelense não abalou com o golo e as oportunidades continuaram a surgir. Essende cabeceou por cima e Samu viu o seu remate com direção do golo sair desviado por um adversário. E como quem não marca sofre… lá se adiantou o Boavista novamente, castigando um Vizela perdulário. Bruno Wilson perdeu a bola e Tiago Morais isolou-se ainda antes do meio-campo. O avançado boavisteiro correu muitos metros e, com desvio de Hugo Oliveira, a bola entrou na baliza de Buntic. Novamente contra a corrente do jogo, novamente em contra golpe. Tudo acontecia ao Vizela.
A impaciência dos adeptos vizelenses sentiu-se e saiu uma enxurrada de assobios para dentro do terreno. Os jogadores acusaram a pressão e os passes falhados começaram a ser cada vez mais recorrentes. O Boavista estacionou o autocarro e aproveitou na transição. Ao intervalo, a vantagem era do cantenaccio axadrezado.
Há dias em que acontece de tudo. O Vizela entrou forte no segundo tempo, criou duas oportunidades e depois aconteceu Abascal. O central uruguaio, na sequência de uma falta atrás do meio-campo, encheu o pé e fez um golo digno de Puskas. A obra de arte matou o Vizela.
O Vizela, sempre melhor no jogo (menos no capítulo basilar: a eficácia), não desarmou. Ganhou o pénalti, mas o VAR reverteu. Atirou por cima golos cantados. Tudo o que de mau poderia acontecer, aconteceu, e não ficou por aqui. 65 minutos, tudo fácil e novo golo boavisteiro. Luís Santos cruzou e Bozenik cabeceou para o quarto golo.
A raiva, compreendida, dos adeptos vizelenses, teve novo interveniente em quem ser descarregada. Joaquim Ribeiro, presidente da SAD, foi o alvo das críticas e o público (que ainda não tinha abandonado o estádio) virou atenções para a bancada. Enquanto isso, Mendez atirou à barra.
Houve tempo para Ricardo Paiva lançar os meninos: Tiago Machado (estreia absoluta) e Joel Silva. Essende, já bem perto do final, ainda fez o seu golo (depois de muitos falhados) e reduziu para 1-4, mas já era tarde demais para as tropas vizelenses almejarem alguma coisa de um jogo que foi tudo menos normal.
Não dá para não destacar a obra de arte de Abascal. Antes do meio-campo, viu o guardião adiantado e tentou a sua sorte. A bola entrou e os jogadores do Boavista foram à loucura. Digno de Puskas!
Exibições inconsistentes, com e sem bola, de Anderson e Bruno Wilson levaram a facilidades extremas no contra-ataque boavisteiro. Para o modelo de Rúben de la Barrera notam muitas dificuldades.
Cláudio Pereira começou com um critério apertado, algo que foi alargando ao longo da partida. Não houve erros que tivessem implicação no resultado da partida.