Depois da bela história que escreveu em Vizela, ao longo de quatro temporadas e 120 jogos, Álvaro Pacheco voltou a encontrar a sua antiga equipa num jogo que, mesmo sem esse contexto, já foi de emoções fortes.
O Estoril Praia esteve na frente mais do que uma vez e o 2-1 parecia que iria durar até ao fim, mas nem assim foi possível o regresso às vitórias. Os visitantes carregaram e voltaram a repetir uma história cada vez mais frequente, ao roubar valiosos pontos com um golo aos 90+11!
Se há uns tempos procurava casa nessa cidade nortenha, quando a surpreendente saída ocorreu, hoje Álvaro Pacheco está a tentar construir as bases certas no novo clube. Se quiser uma estadia tão longa, terá de fazer dos momentos mais difíceis a sua casa, de reforçar os portões da defesa... e não só.
Canários em zona vermelha após três derrotas consecutivas e minhotos com o pleno de desaires em jogos fora de casa. Assim chegámos, com poucas expectativas de uma boa partida de futebol, a este duelo da sexta jornada. Ao fim da primeira parte, esse pessimismo do adepto neutro pareceu justificado.
O Estoril Praia até entrou de forma interessante, com um novo esquema (três centrais) e muito dinamismo. Mateus Fernandes, emprestado pelo Sporting, foi titular pela primeira vez e tentou assumir o jogo, trabalhando a nível defensivo e colocando a equipa a jogar sempre pela faixa direita, onde chamava por Rafik Guitane e Rodrigo Gomes. O francês e o jovem cedido pelo SC Braga foram os mais ativos, mas também os mais perdulários.
A história do jogo, pelo menos na sua parte mais relevante e na construção do resultado, estava guardada para a segunda parte. Foi aí que Guitane voltou a aparecer, vingando o falhanço do primeiro tempo com uma jogada de génio. Recebeu de Holsgrove, rodou, e galgou vários metros antes de abrir o marcador com uma finalização sublime de fora da área. Como um passe para a baliza, sem particular força, aninhou-se junto ao poste e deu o clique para a festa na Amoreira.
Mas o Vizela não cairia sem dar luta. Menos de 10 minutos depois de se encontrar em desvantagem, a equipa visitante encontrou o caminho para o empate, com Matías Lacava, criativo por natureza, a registar a sua primeira assistência no primeiro escalão. Esse empate, tal como o primeiro golo, foi marcado em francês. Foi Samuel Essende que, mesmo sem ter aparecido no jogo em nenhum outro momento, respondeu afirmativamente quando chamado.
Era a hora dos golos e por isso, volvidos mais cinco minutos, o marcador voltou a mexer, num lance construído por internacionais sub-21. Mateus Fernandes, bem mais discreto no segundo tempo, recuperou a bola e serviu João Marques, que sacou da trivela para assistir o cabeceamento de Bernardo Vital.
Duro para os da casa, mas ajustado àquilo que tem sido o futebol atual, com descontos cada vez mais alargados. No fim, uma divisão de pontos mais saborosa para o Vizela, que pela primeira vez em 2023/24 pontua fora de casa.
Se é positivo ou negativo depende sempre de quem marca e quem sofre, porque hoje o longo tempo adicional é mais regra do que algo digno de realce. Descontos dão, descontos tiram... Hoje tiraram pontos ao Estoril, mas deram (além de pontos ao Vizela) uma valente dose de história a um jogo que nem sempre foi o mais entusiasmante. Festa merecida para os visitantes e para um herói improvável, o congolês Saint-Louis.
É evidente que Álvaro Pacheco ainda não decidiu de que forma vai aproveitar o talento que tem à sua disposição. Tem mudado peças e em certos momentos aparenta ter uma fórmula interessante, mas falta encontrar uma forma de aliar esse lado a uma maior solidez defensiva, para que os pontos comecem a entrar com maior frequência. Juventude pode ser desculpa para erros, mas não para a constante falta de solidez.
Nada a assinalar na exibição de Gustavo Correira, a quem foram pedidas algumas grandes penalidades mas sempre sem motivo para tal.