Uma equipa perdida. Zero pontos, desnorte, medo evidente. O Desportivo de Chaves não está a ser capaz de fugir do poço, do lugar mais escuro da Liga.
Más decisões, descontrolo emocional, falta de maturidade. O Moreirense soube capitalizar essas limitações nos homens de José Gomes, seguiu o seu plano de jogo, qual aluno de excelência, e saiu a festejar.
No topo: Alanzinho.
No fundo: a ingenuidade do Chaves.
Não é que a equipa, com Bruno Langa lesionado e em inferioridade numérica, tentou arriscar sem cabeça e - sem surpresa - levou com dois remates perigosos e o segundo golo do Moreirense? Harakiri desnecessário, castigador, a mostrar que no futebol a inteligência é tão competitiva quanto a capacidade tática.
Os flavienses quiseram mais qualquer coisa do jogo, sim. Tentaram, procuraram sobreviver a um golo madrugador, mas não foram disso capazes. Insuficiente.
Para lá do Marão, o botão de pânico foi acionado.
A uma equipa insegura e desconfiada, o pior que podia suceder era sofrer um golo cedo. Assim foi.
O Moreirense levou o livro de instruções para Chaves e seguiu-as ao limite.
Passo A: pressionar um adversário fragilizado e tentar marcar cedo. Feito.
Passo B: baixar as linhas, entregar a bola e adiar o mais possível um eventual empate. Feito.
Passo C: capitalizar o entusiasmo desenfreado do 1-1 e explorar os espaços dados pelo desequilíbrio emocional. Ah, e mais um golo. Feito.
Essa foi a impressão deixada. O Moreirense fez o que quis do jogo e o Chaves só fez o que o Moreirense permitiu.
Alanzinho abriu o marcador e, perto do fim, serviu João Camacho para o golpe de misericórdia. História contada, primeira vitória cónega na Liga e salto importante na tabela.
Rui Borges leu bem a partitura do duelo e tomou sempre as melhores decisões.
É a única boa notícia para os transmontanos. Mesmo com quatro derrotas em quatro jornadas, há um grupo de atletas interessante.
Há o excelente Héctor Hernández no ataque, há um competente Kelechi (ex-Arsenal e FC Porto B) a agarrar o meio-campo, há um incansável Bruno Langa (autor de um bom golo) a fazer toda a esquerda.
E ainda vem aí o maestro Rúben Ribeiro.
A paragem só pode fazer bem ao Desportivo de Chaves e a José Gomes. Apesar da contestação, dos assobios, dos lenços brancos, o plantel dá razoáveis garantias. Depois da paragem para as seleções, segue-se uma dura visita ao Bessa.
Depois do pânico, talvez a esperança.
O Moreirense entrou ousado, marcou cedo e depois percebeu o que tinha de fazer para gerir e ganhar. Baixou as linhas, abdicou da bola e levou a vantagem até ao limite. Com o 1-1 do Chaves, voltou a colocar a cabeça de fora e a mostrar superioridade. O jogo do xadrez.
É a síndrome da escassez. Na hora do desespero, a vítima agarra-se ao possível, quase sempre sem ser capaz de identificar as melhores soluções. O jogo do Desportivo foi isto, naturalmente limitado pelo golo sofrido bem cedo.