Chegou a parecer controlado, mas acabou com o coração nas mãos para salvar um ponto. O Sporting saiu «vivo» de Londres, esta quarta-feira, depois do empate em casa do Tottenham (1-1), e vai para a última jornada com o apuramento para os oitavos de final em aberto.
O jogo era decisivo, tal como Rúben Amorim tinha sublinhado na véspera; na memória recente, o duplo desaire com o Marselha. "Pressão" era um eufemismo no léxico leonino. Mas assim que os primeiros cinco minutos se fecharam em Londres, os temores - psicológicos e físicos - assentaram; e o Sporting foi tão adulto quanto maduro, adjetivos nem sempre sinónimos.
O remédio para sacudir a pressão foi mesmo esse: "sacudir a pressão" e sair a jogar. Os Spurs tentaram, bem cedo, sufocar a construção do leão, mas sem sucesso. Sempre que Rodrigo Betancour e Pierre-Emile Hojbjerg apertavam, Ugarte e Morita soltavam-se; ou Paulinho. O ponta-de-lança, titular por direito próprio, foi perfeito na primeira parte.
Tão perfeito que foi na sua inteligência e capacidade exímia de jogar em apoio que surgiu o momento de «vingança» de Marcus Edwards, aos 22 minutos. O extremo inglês, produto da academia do Tottenham, aproveitou o espaço que o movimento de Paulinho lhe deu para, de meia distância, bater Lloris com um remate colado à relva e junto ao canto.
Vestia bem o fato da vantagem à equipa portuguesa; durante a primeira parte, pelo menos. Sem terem sido abundantes, houve outros momentos de perigo. Seba Coates, aos 13', de cabeça, ou Paulinho, aos 19 minutos, a cruzamento de Porro. Dois exemplos de um Sporting que soube agarrar-se em Londres ao sonho europeu.
Mas não há glória sem resistência, ganho sem sofrimento. E depois de uma primeira parte em que soube como controlar o jogo - e fugir ao controlo inglês -, o Sporting passou por momentos conturbados. A equipa de Amorim teve (bem) menos capacidade para escapar à pressão dos Spurs que, por sua vez, aumentaram a intensidade e a vertigem no seu jogo.
Consequência desse apoderamento londrino: Adán viu o perigo rondar-lhe a baliza em catadupa; Son por duas vezes e Lucas Moura, mas foi um ex-leão que mais assustou: Eric Dier, que com um remate violento obrigou o guarda-redes espanhol do Sporting a defender-se como pôde. Sofria a bom sofrer o leão, mas foi resistindo. Tanto, até que não deu mais.
A dez minutos dos 90, um canto quebrou a fortaleza, com Betancour a antecipar-se a Adán e a cabecear para o empate. Um golo ainda mais doloroso, porque minutos antes o Sporting teve a chave do jogo na mão; duas vezes! Mas Flávio Názinho, nas duas ocasiões, não teve cabeça fria para selar a vitória.
Foi dura a segunda parte. E mesmo depois do empate, o Tottenham carregou; e muito. Dier, por exemplo, voltou a ficar perto do golo; outros também. Até que ao minuto 95, o «mundo» parou. Kane marcava aquele que seria o golo da vitória para os Spurs. O estádio virou vulcão, mas o VAR entraria em ação: fora-de-jogo do avançado inglês, após largos minutos de consulta. E o 1-1 manteve-se.
Se havia dúvidas sobre o estado anímico da equipa de Rúben Amorim, Londres dissipou-as. É certo que a segunda parte não foi um exemplo perfeito em termos táticos, mas se há coisa que manteve o Sporting vivo foi a inabalável vontade de não cair.
Se a segunda parte foi um sufoco, o certo é que o Sporting teve dois momentos para «matar» o jogo. No entanto, Nazinho, nas duas, não foi capaz de manter a cabeça fria. Custou dois pontos, podia ter custado três.