Um jogador sul-americano, daqueles que joga no limite, que não vira a cara à luta, cheio de raça e cheio de vontade de vencer. Maxi Pereira era muito isto. Durante vários anos, foi uma presença assídua nos relvados da Liga Portuguesa, mas sempre pouco consensual entre os adeptos. Uma espécie de jogador que se adora quando está na nossa equipa, mas que se odeia quando está no adversário.
Sem se evidenciar pela suas qualidades técnicas ou até pela velocidade, o uruguaio destacava-se por ser aguerrido e disputar todos lances com muita intensidade (por vezes até demasiada), acabando por se tornar uma peça importantes nas equipas por onde passou. Pode nunca ter sido de elite, mas tem um legado claro no futebol português.
Victorio Maximiliano Pereira Páez nasceu em Montevideu, capital do Uruguai, no berço de uma família humilde. Com quatro irmãos e duas irmãs, foi o primeiro a mostrar aptidão para o futebol. O gosto começou nas ruas do bairro, mas, aos 12 anos, passou para as camadas jovens do Defensor. Foi nesta altura que o seu pai faleceu, só que a mãe, sempre confiante no seu potencial, deu-lhe força para continuar no futebol.
De baixa estatura e com uma forma de correr peculiar, os amigos começaram a chamá-lo de Mono, «macaco» em português, e assim ficou. É habitual darem-se alcunhas aos jogadores na América Sul e essa acabou por acompanhá-lo, como confessou, até à seleção.
Mas não era só aos clubes que El Mono ia impressionando. Em 2006, Óscar Tabárez, selecionar uruguaio, chamou-o para um amigável frente à Venezuela, dando início a uma rica carreira internacional que viria a dar frutos no futuro. Já lá vamos.
Sem ser opção nas primeiras jornadas, o técnico espanhol começou a apostar no baixinho na sua posição original, médio direito. Com o decorrer da época e cada vez mais adaptado ao futebol português, foi ganhando minutos. Depois, devido à falta de qualidade na posição e beneficiando dos atributos que lhe eram conhecidos, começou a ser aposta no lado direito da defesa.
Maxi foi aposta nas competições europeias na época de estreia e a sua verdadeira apresentação na Liga dos Campeões ficou marcada para o dia 28 de novembro de 2007 na receção ao AC Milan. Com um grande remate de fora da área, com o pé esquerdo, deixou Dida sem resposta e ajudou o Benfica a empatar com o então campeão europeu, aquela que era umas das grandes equipas dos rossoneri.
Com a chegada de Jorge Jesus à Luz, o clube ganhou outra dimensão e voltou a celebrar o título de campeão nacional, cinco anos depois, impedindo o penta do grande rival. Com uma campanha quase irrepreensível, as águias ainda revalidaram o título da Taça da Liga.
O urugaio começou a mostrar uma aptidão especial para os jogos importantes e uma veia goleadora pouco comum nos grandes palcos. Nos oitavos-de-final da Liga Europa de 2009/10, o lateral marcou dois dos três golos ao Marseille (3-2), que ajudaram o Benfica a alcançar os «quartos», onde acabaram por cair ao pés do Liverpool. Na época seguinte, voltou a ser importante na eliminatória frente ao Paris SG, deixando o seu nome na lista dos marcadores na primeira-mão (2x1).
Vestiu a camisola da seleção uruguaia por 125 vezes, representando a Celeste por três vezes no campeonato do Mundo e quatro na Copa América, com o auge da sua carreira internacional a culminar na conquista desta competição, em 2011.
Foi, precisamente, após essa final, que El Mono viveu um dos melhores momentos ao serviço do Benfica. Depois de levantar o troféu da Copa America, fez questão de voar para Lisboa e chegar a tempo da primeira mão da 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, apenas dois dias depois. Conseguiu ajudar a equipa a vencer a partida e foi homenageado pelo clube pela conquista da sua seleção. Luís Filipe Vieira referiu-se a ele como «uma das referências e uma das jóias da coroa do Benfica».
Eis que, no dia 15 de julho, explodiu a bomba. Maxi Pereira, o até então vice-capitão do Benfica, ia vestir de azul e branco. Uma decisão que caiu muito mal entre os adeptos dos encarnados e, até nos primeiros tempos, pouco consensual no reino do Dragão. Para além do mais, ia usar o eterno número 2, que pertenceu a João Pinto.
Maxi demorou pouco tempo até convencer os portistas mais céticos. Com a mesma vontade de sempre, agarrou o lugar deixado por Danilo, vendido ao Real Madrid, e tornou-se indiscutível. Na apresentação, deixou o mote: «O objetivo é ser campeão pelo FC Porto».
Nos dois primeiros anos andou perto, mas teve de ver o antigo clube ganhar o campeonato por duas vezes. Ainda assim, as exibições eram convincentes e ninguém parecia fazer concorrência para o lugar. Habituado a assumir o protagonismo nos grandes jogos, como já se sabe, conquistou ainda mais os adeptos do FC Porto quando fez o golo do empate na Luz (1x1) e celebrou com os colegas de equipa. Não gostaram os adeptos encarnados, como seria de esperar.
O último ano de contrato começou de forma positiva, com uma grande exibição na Supertaça premiada com um dos golos, mas acabou por perder protagonismo. A época dos dragões também acabou de forma menos positiva e, à semelhança do que aconteceu com o Benfica, Maxi terminou sem renovar. Na pré-época seguinte, já sem clube, surgiram rumores de um contrato com o Boavista ou o Rio Ave, o que acabou por não acontecer.
Após praticamente um ano sem jogar, o experiente lateral uruguaio acabou por regressar ao ativo no seu país natal, onde assinou contrato com o histórico Peñarol, clube que representou até 2021, onde se sagrou campeão uruguaio, mudando-se de seguida para o River Plate, também do Uruguai.