A polémica do local da final
A final estava marcada para Lisboa e para o Estádio Nacional, palco habitual das finais da Taça, mas o
FC Porto argumentou que, tratando-se de dois clubes do Norte, faria sentido que o jogo não se disputasse em Lisboa.
Daí à decisão do jogo ser mudada para a
Invicta - e mais concretamente para o Estádio das
Antas - foi um pequeno passo. Não havia memória duma final da Taça de
Portugal ser jogada em casa de um dos contendores e até hoje só o
FC Porto teve a possibilidade de jogar em casa a final da Taça por três vezes: contra Leixões, em 1961, SC Braga, em 1977 e
Benfica, em 1983.
De pouco adiantou a contestação leixonense, que, como era norma na época, foi branda e pouco assertiva. A festa ficou marcada para a casa dos azuis e brancos e com a presença garantida do Presidente da República, Américo Thomaz.
O país inteiro acreditava que seria uma festa azul e branca e que o Leixões seria um simpático conviva. No Porto, a expectativa era grande e os bilhetes voaram das bilheteiras. A cidade estava engalanada e em festa, mas do outro lado da circunvalação também havia esperança.
O vermelho e branco do Leixões engalanava janelas e portas e. alicerçados na ideia de justiça e numa inabalável esperança nos seus "bebés". os matosinhenses acreditavam que a vitória era possível para os comandados de Filpo Nuñez. Além disso confiavam que Osvaldo Silva, dispensado anteriormente pelos dragões, teria umas contas a ajustar com o
FC Porto.
Dizem as crónicas da época que o
FC Porto entrou um pouco altaneiro, muito confiante nas suas capacidades e na inevitabilidade da sua vitória. Os leixonenses acusaram o toque dessa "fanfarronice" azul e branca e cerraram fileiras no objectivo comum de vencer Virgílio, Hernâni, Miguel Arcanjo,
Monteiro da Costa e todos os outros na sua própria casa.
Ao futebol pouco característico do
FC Porto respondeu o Leixões com muita garra, equilibrando a partida e chegando a dominar o jogo durante largos minutos. O jogo chegou ao intervalo com um nulo e com Osvaldo Silva a coxear, ameaçando não voltar ao jogo.
A segunda parte de sonho dos bebés de Matosinhos
A segunda parte recomeçou e a estrela leixonense não reentrou em campo. Tudo corria a favor do
FC Porto. Em Matosinhos ainda hoje se fala que foram as mãos miraculosas do massagista Auricélio que recuperaram Osvaldo Silva e o craque voltou ao terreno, tendo o Leixões marcado rapidamente pelo outro Silva aos 66 minutos.
O
FC Porto abanou e o Estádio das
Antas ficou mudo com a evidente exceção da pequena bancada reservada aos matosinhenses. Três minutos depois, chegou o 0x2 quando Oliveirinha bateu um surpreendido Acúrsio e deixou o estádio incrédulo.
Os portões abriram-se e os adeptos portistas começam a abandonar as
Antas 15 minutos antes do tempo. Quando Décio de Freitas apitou para o final da partida foi a explosão de contentamento leixonense.
As bandeiras vermelhas e brancas desfraldadas vitoriosamente ao vento enquanto Raul Machado recebia a taça das mãos do Presidente da República. Depois seguiu-se um cortejo de festa de volta a Matosinhos para agradecer o apoio da terra e do Senhor de Matosinhos.A festa continuou com jogadores e adeptos festejando até altas horas, enquanto, no Porto, o jornal
Norte Desportivo tentava recuperar os exemplares que já tinham saído do prelo com a notícia que o
FC Porto tinha vencido a Taça de
Portugal batendo o Leixões por 4x1...
Para a história ficou o onze comandado pelo argentino Filpo Nuñez: Rosas; Santana e Pacheco; Ventura, Raul (capitão) e Jacinto; Medeiros, Osvaldo, Oliveira, Silva e Gomes. Os heróis do Mar responsáveis pela maior façanha de um dos mais carismáticos clubes portugueses.