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      Argentina 1978
      Grandes jogos

      RFA x Áustria: O milagre de Córdoba

      Texto por João Pedro Silveira
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      O «milagre de Córdoba» é um dos mais populares jogos da história da rivalidade entre alemães e austríacos. Decorreu a 21 de junho de 1978, em jogo da segunda fase do Mundial da Argentina. A RFA, Campeã Mundial em título, chegara à segunda fase sem maravilhar, enquanto a Áustria se qualificara em primeiro num grupo com Brasil, Espanha e Suécia. 

      Na segunda fase, num grupo em que - além de austríacos e alemães - estavam presentes Holanda e Itália, os austríacos perderam os dois primeiros encontros, ao passo que os alemães empataram os dois. O jogo era meramente simbólico para a Áustria, mas a Alemanha sabia que uma vitória por cinco golos de diferença podia valer uma presença na final de Buenos Aires. Já uma simples vitória ou um empate muito certamente garantiam a presença no jogo de atribuição de terceiro e quarto lugar.
       
      Berti Vogts, o infeliz autor do autogolo que iniciou a reviravolta austríaca.
      O jogo passou à história como «o milagre de Córdoba», enquanto na Alemanha ainda é recordado como a «desgraça de Córdoba». Os austríacos não esquecem essa partida, pois, apesar de não significar nada para a classificação final do grupo, foi a primeira vitória da seleção desde 1938. Era preciso regressar 40 anos no tempo, à data da anexação da Áustria pela Alemanha nazi, para encontrar a última vitória dos vizinhos do sul. Prohaska, Krankl e companhia sabiam o que estava em jogo. Os alemães talvez não...
       
      Helmut Schön, o líder da equipa que conquistara o mundo quatro anos antes, estava ciente do envelhecimento da equipa e de alguma falta de atitude dos jogadores já notada e criticada pela imprensa alemã. Sepp Maier, Berti Vogts, Rolf Rüssmann, Bernard Dietz, Manfred Kaltz, Rainer Bonhof, Erich Beer, Karl-Heinz Rummenigge, Rüdiger Abramczik, Bernd Hölzenbein e Dieter Müller entraram de início pela RFA. O onze dos Campeões do Mundo em título, o onze que tinha como objetivo fazer história.
       
      E a história começou a correr bem quando Karl-Heinz Rummenigge fez o primeiro golo aos 19 minutos, curiosamente ao mesmo minuto que, no outro campo, a Itália inaugurava o marcador. Ao intervalo, os resultados deixavam tudo em aberto e a RFA estava a quatro golos de Buenos Aires. A história, contudo, ainda tinha muitas páginas para serem escritas...
       
      Segunda parte histórica
       
      A segunda parte trouxe uma Áustria transfigurada. Entretanto, a Holanda empatava o jogo na outra partida (haveria de vencer por 2x1), aumentado a pressão para os alemães. Aos 59 minutos, Vogts fez um autogolo e empatou a partida. Sete minutos depois, Krankl arrancou um pontapé fulminante da direita e deu a volta ao resultado. A RFA reagiu dois minutos depois por intermédio de Hölzenbein.
       
      O jogo permaneceu tenso, com oportunidades dos dois lados e um ligeiro pendor germânico. O segundo golo da Holanda - e o empate - garantiam que a RFA iria ao menos disputar o jogo de consolação, mas, a dois minutos do fim, Krankl veio pela esquerda, tirou os adversários da frente e empurrou com classe a bola para o fundo das redes de Sepp Maier.
       
      Era o 2x3! O escândalo em Córdoba. Os austríacos entravam em transe e os alemães não conseguiam acreditar. A festa austríaca foi histórica ao ponto de, ainda hoje, a vitória ser recordada sempre que há um Alemanha x Áustria. Sem motivos para festejarem nos dias que correm, os austríacos ainda celebram o jogo com o celebrado sentimento de Schadenfreude. (1) 
       
      Em 2008, Viena, durante o Campeonato da Europa, adeptos austríacos ainda recordavam o milagre de Córdoba, esperando um novo milagre. A Alemanha venceria por 0x1 e seguiria em frente, enquanto a anfitriã ficava pela primeira fase.
      Para os alemães foi uma desgraça, um pesadelo. A RFA ficou fora das medalhas e nas três edições seguintes e conseguiria a presença em três finais, vencendo a última delas. Aliás: desde 1978, a Alemanha apenas por mais duas vezes (1994 e 1998) falhou um lugar entre os quatro primeiros.
       
      Já a Áustria apenas por três vezes se voltou a qualificar para a fase final (1982, 1990 e 1998), nunca mais voltando a conseguir um resultado de monta e ficando constantemente afastada das grandes decisões. 
       
      Em Espanha, no Mundial seguinte, alemães e austríacos voltaram a enfrentar-se numa vitória polémica por 1x0 da RFA, partida que ficou conhecida como o «Jogo da Vergonha» em que a Áustria, já qualificada, deixou-se derrotar num jogo que afastou a Argélia do Mundial e qualificou os dois vizinhos. Mas isso são páginas de outra história...
       
      nb
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      (1) - Schadenfreude (AFI: [/ˈʃɑː.dənˌfrɔɪ.də/]) é um empréstimo linguístico da língua alemã também usado em outras línguas para designar o sentimento de alegria pelo mal alheio ou satisfação perante o infortúnio de um terceiro. A palavra deriva de schaden (dano, prejuízo) e freude (alegria, prazer). 

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      jogos históricos
      U Quarta, 21 Junho 1978 - 17:45
      Mario Alberto Kempes
      Avraham Klein
      3-2
      Hans Krankl 66' 87'
      Karl-Heinz Rummenigge 19'
      Berti Vogts 59' (p.b.)
      Bernd Hölzenbein 72'
      Estádio
      Mario Alberto Kempes
      Lotação54388
      Medidas105m x 70m
      Inauguração1978