Em 2020, ano em que este texto foi redigido, também o ano em que o futebol deixou de sentir as acelerações e sobretudo os golos de David Villa, olhávamos para a lista de melhores marcadores da história da seleção espanhola e... nada! Nem uma ameaça. O trono pertence a David Villa e assim se perspetiva que seja por muito mais tempo. Mas não é só por isso que El Guaje (O miúdo) tem direito a figurar aqui, nos textos dos imortais do futebol. Há muito mais...
Falar da história de David Villa, nascido em Tuilla em dezembro de 1981, é começar pelos primeiros anos, onde uma fratura do fémur com tenra idade (4) o levou para a dúvida: operação ou não? O risco da intervenção era que uma perna ficasse mais curta que a outra, portanto a opção recaiu num tratamento conservador. Seis meses de gesso e uma recuperação demorada, mas eficaz.
Já aí, o pai (mineiro de profissão), em virtude da lesão na perna direita, forçava-lhe a esquerda. Queria que o filho fosse jogador de futebol e intensificou a vontade depois de ter deixado de trabalhar, tinha o pequeno David 10 anos - já aí tinha levado a sua primeira chapada futebolística, ao não ser aproveitado pelo Real Oviedo, por ser pequeno e franzino e por não ter transporte. Algo que não seria problema para o Langreo, que lhe ficava mais perto de casa e que lhe deu a mão.
Sempre sob o olhar atento do pai José Manuel, Villa cresceu e transportou para o campo a crença que existia na família. Era aí, fiel a força, potência e perícia dos dois pés, que mais sobressaía, o suficiente para, aos 18 anos, ir para uma maior realidade. O Sporting Gijón contratou-o aos 18 anos, deu-lhe calo na equipa B e lançou-o às feras. Com 20 anos, junto ao mar e em plenas Astúrias, sempre próximo do conforto do lar, viu-se um David Villa a emergir.
Em 2003, terminada uma segunda época de grande produção na equipa principal do Sporting, e gorada a subida de divisão, percebeu-se finalmente que a dimensão de El Guaje, entretanto feito homem, era demasiada para o segundo escalão. O Real Zaragoza, então na primeira, chegou aos 400 milhões de pesetas e levou-o (não se assuste, caro leitor, que a pouco mais de 2,5 milhões de euros correspondiam).
A época seguinte, sem tanto êxito coletivo, embora com a Supertaça a abrilhantar (1x3), deu para novas experiências para David Villa: jogou as competições europeias e chegou à seleção nacional, onde foi lançado em fevereiro de 2005 por Luis Aragonés, num particular contra San Marino (5x0). Era um elenco muito forte, com Raúl e Fernando Torres como referências do ataque. Por isso, só mais tarde voltaria, em outubro, quando já era o Mestalla a cantar o seu nome.
Endinheirado, em anos de grande fulgor, o Valencia não o deixou estar mais tempo no interior e levou-o novamente para o litoral. Era indiferente... em qualquer contexto, David Villa marcava e brilhava. E não interessava o que pagavam por ele: «Custei 12 milhões de euros mas tenho a mesma pressão de um jogador que tenha sido grátis. Isso não me afeta».
No meio de todo um sucesso num clube em contra-ciclo, mas no qual passou a linha dos 20 golos em cada uma das cinco épocas, havia sempre a confiança de Aragonés. Levou-o à Alemanha, onde já era um titular polémico: no primeiro jogo, sentou Raúl no banco e fez dois à Ucrânia (4x0). Marcaria à França, na despedida nos oitavos de final (1x3). E teria o seu lugar cimentado dois anos depois.
Dois anos depois, já sem o mestre Aragonés, o começo até foi desastroso na África do Sul (1x0), mas seguiram-se novamente vitórias atrás de vitórias, de uma equipa alicerçada no Barcelona e com alguns intrusos. El Guaje, uma vez mais, foi de tal forma imprescindível que voltou a figurar no topo dos artilheiros da prova, que o coroou como campeão do Mundo.
No Mundial africano, já não estávamos perante um jogador do Valência. Assim que a época acabou, o Barcelona antecipou-se à muita concorrência que existia e anunciou a contratação do avançado por 40 milhões de euros - mais tarde, surgiria uma investigação aos moldes do negócio, que terá sido por verba perto dos 50 milhões. «Era aqui que queria estar, o Barcelona foi sempre a minha primeira opção», disse, na apresentação.
E, logo a abrir (escusado será dizer que pegou de estaca), títulos e mais títulos. Supertaça, campeonato, Liga dos Campeões. Escapou apenas a Taça do Rei, pela cabeça de Cristiano Ronaldo no seu Mestalla (0x1). E continuou depois, com nova Supertaça espanhola, mais a Europeia, e a seguir o Mundial de Clubes... STOP! Foi aí, acabado de fazer 30 anos, que a tíbia da perna esquerda cedeu, durante a meia-final contra o Al-Sadd (0x4). De Yokohama levaria o título mundial de clubes, para juntar ao de seleções, num palmarés cada vez mais repleto, mas levaria também a drástica notícia de que o Europeu de 2012 não seria para si.
Del Bosque, uma vez mais, contou com ele para uma grande competição. No Brasil, porém, David Villa já só foi para o campo na última jornada, com a campeã do Mundo Espanha já no tapete, após duas derrotas. Marcou à Austrália (0x3), na última vez que fez dupla com Fernando Torres, e seguiu, porque havia um enorme desafio.
O recém-formado New York City FC fez dele, em 2014, a primeira bandeira do clube. Foi uns meses para a Austrália, enquanto o clube americano esperava para entrar na MLS, e pegou na batuta em 2015. Marcou o primeiro golo da história do clube e completou quatro épocas, sempre acima dos 15 golos, não conseguindo ser campeão.