PRÉMIOS ZZ | Marco Matias: «Vou ter de mudar o móvel de casa»

Marco Matias já tem em sua posse o Prémio Regularidade zerozero, relativo à sua temporada 2022/2023 na Liga Portugal SABSEG, ao serviço do Farense, e que culminou com a subida de divisão. A cerimónia de entrega aconteceu no Estádio de São Luís, em Faro.

O zerozero aproveitou o momento para fazer uma entrevista ao jogador. O avançado recordou a última temporada, mas também deu o seu ponto de vista sobre a forma de trabalhar para manter os níveis elevados.

zerozero: Foi uma época muito positiva, mas fazia ideia que podia ser considerado o melhor jogador da Liga?

Marco Matias: Todos os jogadores têm isso em horizonte, mas sabemos que é difícil, muito difícil. Eu já vinha a fazer boas épocas, antes de vir para o Farense, mas as coisas foram acontecendo.

Marco Matias Farense 2022/2023

36 Jogos  3099 Minutos

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zz: Mas são outros tempos e outra idade...

MM: Sim, desmistifica um bocado a ideia de que os jogadores a partir dos 30 já não prestam, já não correm... Não considero isso uma verdade, hoje em dia tens jogadores ao mais alto nível com 33, 34 e 35 anos. Em Espanha tivemos o Joaquín com mais de 40, o Ronaldo tem 38. Temos de ultrapassar essa barreira, porque os jogadores atualmente preparam-se e estão plenamente aptos no aspeto físico. Os jogadores, hoje em dia, têm mais informação, cuidam-se mais e isso eleva os jogadores que estão acima dos 30 anos. Além disso é a experiência que temos de tempo de jogo. Consegui e consigo adaptar-me bem aos momentos que vivemos nos dias de hoje.

zz: É o saber correr?

MM: Sim, é muito isso.

zz: Os seus registos de utilização foram muito altos - mais de três mil minutos em 2022/2023 - e em determinado momento da temporada poderia descansar algum jogo. Como é a sua preparação para ter este registo?

MM: Estar atento a tudo: a alimentação, o descanso, o trabalho e muito vem do trabalho mental. Compreendo a ideia de descansar algum jogo, mas o que nos tem de motivar é: 'Se fiz noventa, quero ganhar e fazer mais noventa, não quero sair aos sessenta.' Tudo isto faz com que a nossa ambição cresça, e claro, com as coisas a correrem bem, cada vez estás mais confiante, melhor e tudo sai com mais naturalidade.

zz: Qual foi para si o jogo mais importante da última época?

MM: O jogo que nós sentimos que estava quase, foi a vitória no Seixal, contra o Benfica B. Foi quase no último lance do jogo e assim sentimos que iríamos subir. Vínhamos de oito jogos seguidos a vencer e sentíamos uma energia diferente dentro do campo e esse foi o jogo crucial.

zz: Acompanhou o nosso trabalho na última época? Quantas vezes foi Homem do Jogo para o zerozero?

MM: Eu acho que nem os troféus da Liga contei (risos). Penso que foram 12...

zz: Está correto. Foram 12 vezes em 31 jogos: é muita coisa...

MM: É (risos). Está a correr bem, fico feliz, muito feliz. É um reconhecimento individual, mas tudo isto passa pelo coletivo. Se não tiveres um coletivo forte, um coletivo que te ajude, nunca consegues atingir estas metas. Já disse, várias vezes, aqui aos colegas: no Nacional tinha uma frente de ataque muito forte, fomos dos ataques da Liga, às vezes, fora de casa, marcávamos três golos e sofríamos quatro. Era difícil ser Homem do Jogo nessas partidas, normalmente é o jogador que faz o 4-3 e por vezes nem jogou assim tanto tempo. É assim que futebol funciona, por isso é muito importante o trabalho coletivo e o trabalho que fazemos diariamente.

zz: Por isso é os seus números de assistências dispararam no último ano?

MM: Costumo dizer que agora estou a retribuir o que me deram. Tem a ver com os colegas que temos ao lado. Joguei com o Pedro Henrique e o Róchez e agora temos o Bruno Duarte, temos o Rui Costa... são jogadores que não precisam de muito tempo para finalizar e finalizam muito bem. Claro tudo isso ajuda bastante.

zz: Para quem gosta de marcar golos e vive de golos, podemos dizer que é o altruísmo dos 34 anos?

MM: É pensar sempre no coletivo, mas quando surge o individual ficamos felizes. Quando somos jovens temos a tendência em pensarmos primeiro em nós e por isso acho que agora o clique é diferente.

zz: Já esteve no em vários locais, como Madeira, Inglaterra, em Sheffield, começou no Barreirense, mas fez a formação no Sporting e jogou também no Vitória SC. Como são estes ares do Sul? São melhores, para si?

MM: Não podemos comparar o ar do Algarve com o ar de Sheffield (risos). É completamente o oposto. Cada clube com a sua história, cada cidade com a sua história. Quando assinei pelo Farense, disse ao Zé Luís que só me faltava jogar no Sul e houve esta oportunidade. Com a minha idade têm de ser projetos aliciantes para andarmos e continuarmos a jogar futebol. Não vale a pena ser de outra: tenho de me identificar e acordar todos os dias a saber que tenho um objetivo forte para conquistar. Tem sido assim nos últimos anos. Treinámos muito e dentro do que posso fazer para me cuidar, eu faço. Descansar e trabalhar bem em casa. Às vezes o corpo prega-nos algumas partidas, mas faz parte.

Marco Matias com o prémio regularidade da Liga Portugal SABSEG 22/23 atribuído pelo zerozero @Tiago Pinto - zerozero.pt

zz: Esperava aos 34 anos estar neste nível de carreira?

MM: Eu não faço muitos planos a longo prazo. Gosto de olhar época a época. Aceitei este projeto por sentir que o Farense é um clube que deveria estar na Primeira Liga e foi um projeto muito bom. Depois, juntei o útil ao agradável: nunca tinha jogado no Sul e era um clube adorava ter representado mais cedo, mas não houve essa possibilidade. Fiz uma boa época, fisicamente sinto-me bem e só fazia sentido continuar, ainda para mais na Primeira Liga. Não sinto que a intensidade seja muito diferentes entre as duas ligas e até ao momento tenho me sentido bem. Enquanto as pernas deixarem e o corpo deixar.

zz: E o mister permitir...

MM: Verdade, vou continuar a jogar e a ajudar a equipa.

zz: Vocês transitam para a Primeira Liga e continuam com um grupo de trabalho muito coeso. É também verdade que há vários jogadores com muita experiência e um treinador com muita experiência que sabem o que é estar numa Segunda Liga e lutar para ganhar e estar numa Primeira Liga, onde sabem que não vão ganhar tantas vezes. Como se muda esse chip?

MM: São campeonatos completamente diferentes. O facto de termos mantido grande parte do plantel é um ponto fulcral. Não há grande diferença entre a Primeira e a Segunda Liga. Há melhores executantes, tem mais inteligência, há jogadores com mais conhecimento, menos tempo para agir no jogo, mas temos vistos que nos Play-Off as equipas de Segunda Liga têm ganho às da Primeira e temos visto este ano. Nós e o Moreirense estamos bem classificados e isto é uma prova de que há muita qualidade nas divisões inferiores e basta haver oportunidade. Como nós, muitos virão atrás e com muito sucesso.

zz: O que fez o pequeno rapaz do Barreiro escolher jogar futebol e continuar com esta vitalidade?

MM: As prendas de aniversário e do Natal eram sempre o novo equipamento do Sporting. Eu fui formado no Sporting, ia para a escola de caneleiras, chuteiras, uma bola... Isto já vem de casa. O que me motiva é gostar. Temos de gostar daquilo que fazemos e saber que somos abençoados por fazer o que gostamos. E depois é tudo o resto: quando as coisas correm bem, estamos bem. Estou num cidade fantástica, vou comer fora e sou acarinhado, ando no shopping e sou acarinhado, aqui no estádio também. Tudo isto contribuiu para o bem pessoal e quando estás bem não faz sentido querer acabar a carreira. Enquanto o meu corpo me deixar, vou continuar a jogar. Quando sentir que já não sou uma mais valia, vou parar.

zz: E onde vai ficar aquele prémio?

MM: Ainda estou a pensar. Tenho um móvel em casa, mas não estava à espera de receber tantos prémios a época passada e vou ter de mudar o móvel. Para já, vai ficar no escritório, onde tenho as camisolas todas e os principais prémios. Agora estou em remodelações e tenho de arranjar um móvel maior. Temos de ser positivos e trabalhar para ter novos prémios.

zz: Alista-se a ganhar o desta temporada?

MM: Este ano é muito difícil. São outros objetivos, o grande prémio é conseguirmos rapidamente a manutenção e depois atingir o maior número de pontos possível. Se ganhar for ganhando os de melhor em campo, ou os meus colegas, fico feliz na mesma.

Marco Matias a festejar um golo ao serviço do Farense @Carlos Vidigal Jr. / Kapta+