Nos juniores do Paços de Ferreira brilha um apelido famoso: Sanz. O nome remete para o lado materno da família e para o antigo presidente do Real Madrid, Lorenzo Sanz (1995 a 2000) – falecido em 2020 com covid19.
Em Espanha, o último nome é herdado da mãe. O penúltimo é passado pelo pai. No caso de Miguel Sanz, o menino de quem se fala nesta história, ambos os apelidos são pesados e famosos.
Miguel é filho de Míchel Salgado, antigo lateral direito do Real Madrid e da seleção de Espanha. Atentem ao currículo do senhor: dez temporadas nos blancos da capital espanhola (371 jogos/5 golos), mais 53 internacionalizações e presenças no Euro2000 e Mundial de 2006.
Imponente. Míchel casou-se com uma das filhas de Lorenzo e Miguel, avançado dos juniores do Paços, é fruto da união. Um dos tios, Fernando Sanz, jogou também quatro anos no Real Madrid e foi, de 2006 a 2010, presidente do Málaga.
Como é que o Paços de Ferreira conseguiu chegar a Miguel Salgado Sanz, ponta-de-lança agora com 17 anos?«Bem, na verdade foi o Miguel que conseguiu chegar ao Paços», esclarece Rui Vieira ao zerozero, treinador que orientou o petiz nos sub19 e que com ele continuará a trabalhar na época 2022/23.
«O Miguel saiu do Celta de Vigo [de onde o pai é natural] e veio treinar aos nossos sub17, não sei por intermédio de quem. Chegou em fevereiro, agradou bastante, mas esteve um período sem poder competir. Tivemos de resolver todas as burocracias e depois, sim, começou a ser opção nos juvenis», explica o treinador pacense.
As coisas correram tão bem – três golos em dois jogos – que Miguel Salgado Sanz foi logo promovido aos sub19, «primeiro num contexto mais de treino» e, numa fase final, «já com a presença em quatro convocatórias».
«O nosso ponta-de-lança [Edmilson Mendes] foi chamado aos seniores e isso abriu-lhe algum espaço», contextualiza Rui Vieira, «muito agradado» com estes primeiros meses do seu pupilo.
Apesar dos muitos elogios, o treinador deixa também alguns reparos: «O Miguel é um ponta-de-lança já forte fisicamente, rápido e que joga muito bem de costas para a baliza. Finaliza bem, mas precisa de crescer em alguns aspetos: tem de compreender melhor o nosso jogo e melhorar em termos mentais, os miúdos de agora têm de colocar os pés na terra. Ele não é diferente.»
As expetativas na Mata Real são altas. Em fevereiro, a chegada de Miguel passou ao lado do radar dos Media e isso acabou por dar-lhe «tranquilidade e normalidade» no dia-a-dia.
«O Miguel ficou instalado no lar do clube, que fica perto do estádio. Vive com outros colegas de equipa e frequenta a escola secundária de Paços de Ferreira. Faz tudo oque os outros fazem. Teve uma integração rápida, até porque é um miúdo sociável e aberto», sublinha Rui Vieira, mais interessado no futebolista do que no passado familiar.
«Por acaso, ele é muito parecido com o pai (risos), mas em jogo não tem nada a ver com o Míchel Salgado. O Míchel foi um grande lateral direito e o Miguel é um ponta-de-lança de raiz, um miúdo com golo.»
«No balneário não se fala muito disso, sinceramente», acrescenta o treinador Rui Vieira. «Os colegas aceitaram-no bem, não pensam muito nesse lado mais mediático do Miguel. Ele dá-se bem com toda a gente e isso ajudou muito.»
Miguel Salgado Sanz, 17 anos, ponta-de-lança. O mesmo cabelo louro, a mesma expressão malandra, a mesma forma de correr, mas um posicionamento radicalmente oposto em campo.
«Estou muito feliz por começar esta nova etapa. Obrigado ao Paços de Ferreira pela oportunidade e pela confiança. Quero agradecer ao Celta por todos os anos que passámos juntos», escreveu Miguel Sanz, a 5 de fevereiro, no instagram.
O presente e o futuro imediato passam pelos sub19 do Paços.
«No próximo ano ele será júnior de primeiro ano e estará comigo. Espero que jogue bastante, acredito que a integração que fez na parte final da época pode dar-lhe alguma vantagem. Acredito que vai crescer, que nos vai ajudar e nós também o ajudaremos», conclui Rui Vieira, «curioso» para ver até onde chega o herdeiro de Salgado e Sanz.
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