10 de julho de 2016. Inesquecível. O dia em que Portugal chegou ao topo da Europa do futebol. Passaram quatro anos, o título continua nas mãos da equipa das quinas, e as memórias continuam bem presentes, sendo possível dar ainda mais valor hoje a tudo o que foi alcançado em Paris.
André Gomes foi um dos que escreveu o seu nome da história do futebol português, num dos dias mais bonitos para a nossa nação. O médio não tem dúvidas da importância de Fernando Santos para a conquista do ouro, um treinador que conseguiu incutir uma «mentalidade vencedora» para o seio da seleção.
O Euro 2016, o papel do selecionador português para o sucesso, o futuro que se perspetiva risonho e a vontade clara de marcar presença nos eleitos para o próximo Europeu, com a consciência clara de que esse objetivo não depende apenas da sua vontade. Senhoras e senhores, eis a terceira parte da entrevista ao campeão europeu André Gomes.
zerozero (ZZ): Após dois anos na equipa principal do Benfica, surge o Valencia para a primeira experiência no estrangeiro. Como foi a mudança aos 21 anos?
André Gomes (AG): Altos e baixos no Valencia. Primeira época muito boa, segunda época já não tão boa... Muitas mudanças de treinador, mesmo a própria Direção não estava coesa e sofremos também muito com isso. Os próprios adeptos também são muito exigentes. A cidade vive praticamente toda para o Valencia. Quando as coisas estão bem tu sentes a euforia, mas quando as coisas estão mal também sentes isso. Foi uma oportunidade única, muito importante também por ser o primeiro passo fora do país, longe da minha família e amigos. Duro, mas para mim, a nível profissional, foi excecional, e consegui superar-me. Estou muito agradecido ao Valencia e é uma cidade que eu adoro.
ZZ: A passagem por Valencia dá-te a oportunidade de ir representar a Seleção no Campeonato da Europa de 2016, onde te sagras campeão europeu, aos 23 anos. Como é recordar essa conquista quatro anos depois?
AG: Sou sincero, quanto mais tempo passa, ainda mais valor dou àquilo que conquistámos e tudo o que fizemos. Há aquele momento em que pensas como deves festejar e te comportar depois de venceres um título tão importante para o nosso país. Olhas para trás, voltas a reviver tudo e dás ainda mais importância agora do que naquele momento em que estavas a festejar. Foi uma coisa extraordinária, algo incrível para todos e para o país. A forma como fomos recebidos em Lisboa foi fenomenal. Acho que foi um marco muito importante, mas a partir desse momento vem o outro lado: ganhámos e vamos querer defender o título. E em cada competição que a seleção entrar é para ganhar, independentemente das pessoas acharem que somos mais ou menos favoritos. Isso em parte é muito por culpa do mister Fernando Santos, por nos incutir a mentalidade vencedora e correta em todos os jogos em que representamos o país.
ZZ: Conhecemos aquele lado mais sisudo, mas como é o mister e qual a sua importância no sucesso da Seleção?
AG: Foi muito importante, desde o primeiro dia em que chegou à Seleção. Tentou sempre incutir a ideia de ganhar a toda a gente. E quando tu repetes tantas vezes a mesma mensagem, de uma forma positiva, que chega uma altura em que mesmo quem não está convencido acaba por se convencer. Ele tem muito mérito nisso, é o responsável máximo, e temos de dar palavra de apoio e apreço por tudo o que tem feito. No início [do Euro] foi uma caminhada muito dura e temos noção que muitos não acreditavam no nosso sucesso. Mas nós lá dentro estávamos muito unidos e sentimo-nos muito fortes.
ZZ: Têm aparecido muitos jovens de qualidade na Seleção. Temos o futuro assegurado?
AG: O mister está atento a todos e é preciso dar valor. A Seleção está muito coesa, há muitas opções para todas as posições e a base está lá. Quem chega lá percebe qual o contexto e a mentalidade do grupo e isso demorou anos a ser construído.
ZZ: Não é facil estar num clube e depois ires para a Seleção...
AG: É dar o braço a torcer ao trabalho do mister e a todo o staff. Há um núcleo de jogadores e depois vai acrescentando opções, facilitando também o trabalho a quem chega.
ZZ: O Europeu foi adiado para o próximo ano por razões sobejamente conhecidas. Será escusado perguntar se vais querer estar presente...
AG: Claro que sim, está na minha cabeça, respeitando todas as opções do mister, que tem muita qualidade à disposição. Não é por acaso que estamos constantemente a lutar para ganhar titulos. O que posso fazer é trabalhar no máximo, jogar bem e ter espírito competitivo para voltar a ser chamado à Seleção.