Esta terça-feira é dia de voltar à Liga dos Campeões e o FC Porto, um dos três representantes lusos em prova, joga na Catalunha, mais propriamente em Barcelona, na casa (emprestada) de um histórico do futebol mundial. Culés e Dragões têm histórico entre si, incluindo decisão de grandes troféus.
Ora, a última vez que estes dois históricos se tinham encontrado, antes do jogo da primeira volta, claro, tinha sido precisamente um desses casos. Recuemos até 2011. O Barcelona vivia a era dourada do tiki-taka de Guardiola e tinha conquistado o campeonato e Supertaça espanhola e a Liga dos Campeões, frente ao Manchester United (3-1). O FC Porto tinha acabado de ter uma das melhores épocas de sempre de uma equipa portuguesa, havia ganho tudo a nível interno, além de ter-se sagrado campeão invicto, adicionando ainda a conquista da Liga Europa, frente ao SC Braga (1-0).
«Em termos de títulos, números, vitórias, conseguir ser campeão invicto, foi o meu melhor ano a nível coletivo. Depois, estava naquela fase de ainda ser jovem, mas com alguma experiência já, com alguns internacionais. Foi um ano especial. Não foi tudo um mar de rosas, porque a pré-época foi complicada, mas começando a época conseguimos um troféu, com a Supertaça, ganhámos confiança e foi uma época única. Chegámos a um nível que nem nós acreditávamos», relata, em conversa com o zerozero, Rolando, antigo internacional português, que foi titular nessa Supertaça Europeia.Ditou a tradição um encontro entre si, na Supertaça Europeia, no Monaco, e, apesar de ser o "todo poderoso Barcelona", os azuis e brancos bateram-se bem e estavam com ganas de surpreender: «Tínhamos noção que o Barça tinha uma equipa fora de série, com um jogador que podia decidir a qualquer momento, mas nós vínhamos num momento espetacular, de um ano perfeito. Tínhamos a confiança e sonho de conseguir vencer. A maioria da equipa era jovem e tínhamos essas ganas. Viu-se nesse jogo. Por sermos jovens, vivemos aquele momento de forma diferente. Sabíamos que podíamos lutar. Tivemos um descuido, eles fizeram o 1-0, fomos atrás do prejuízo e eles fizeram o 2-0.»
Foi mesmo isso que aconteceu. O FC Porto entrou a testar o guarda-redes Victor Valdés na meia distância e pareceu perigoso, mas aos 39 minutus bastou um erro de Fredy Guarín e Messi fez das suas, marcando o 1-0 e mudando o rumo do jogo. O FC Porto foi obrigado a correr atrás do prejuízo e parecia capaz de retirar algo, mas já perto do fim, mais propriamente aos 85 minutos, perdeu a réstia de esperança que tinha, aquando da expulsão de Rolando, precisamente por falta sobre Messi.
«É um jogo agridoce. Sendo uma final europeia, depois de conseguirmos um título europeu, é uma felicidade enorme. Depois a parte negativa é que a nível coletivo não conseguimos esse troféu, mas foi contra um dos melhores Barças da história. Ainda por cima fui expulso nesse jogo, a minha primeira expulsão da carreira, a primeira de poucas. A culpa foi do baixinho [Messi], expulsou-me. Foi uma experiência única, belíssima. É para esses jogos que os jogadores sofrem tanto durante a infância e adolescência. É para esses jogos que lutamos», descreve o antigo central, que não joga desde 2022.
Apesar de Messi ter sido a causa da primeira expulsão da sua carreira, Rolando guarda esse jogo com um carinho especial, precisamente pela oportunidade de ter defrontado o argentino: «É um momento especial. Jogar contra um dos melhores da história não acontece todos os dias. Antes do jogo começas a imaginar muitas coisas. O essencial é esquecer quando entras em campo, mas depois basta um pequeno descuido e ele faz a diferença, porque é diferente. É dos jogadores que tive maior prazer defrontar. Depois é um jogador que dominou, juntamente com o Cristiano Ronaldo, durante duas décadas. É especial. Marcou-me positivamente, porque estive lá e tive esse prazer, mas negativamente porque me meteu na rua. Ainda por cima foram duas faltas sobre ele [risos]. Foi dos maiores prazeres que retirei da aventura no futebol.»
«Nesse dia o Souza disse-me que quase lhe estragava o negócio, porque quando acabou o jogo eu fiquei no túnel do estádio do Monaco. Quando o Messi vem a sair, o Souza está ao meu lado. O Souza achava que lhe ia pedir a camisola, mas não o cheguei a fazer, porque sempre que pedia para trocar era com cabo-verdianos ou um português numa competição europeia. Não era muito de trocar camisolas, mas se fosse hoje acho que faria diferente [risos], estava com aquela raiva da derrota. São momentos que devemos viver ao máximo, porque foi um momento de orgulho e ter uma lembrança especial seria muito bom», conclui, entre risos.
«São eras e momentos diferentes. É difícil comparar. Viu-se no jogo do Dragão, apesar da derrota, que o FC Porto fez um jogo muito positivo. Merecer ou não merecer é relativo no futebol. Não conseguiu. Da mesma forma que o Barcelona veio cá e sofreu para vencer, o FC Porto pode fazer o mesmo lá. O FC Porto tem história, equipa, tarimba, jogadores com muita experiência, um misto de características que podem ajudar a vencer, mesmo sendo num campo e com um adversário difícil», antevê o internacional luso em 21 ocasiões.
2-1 | ||
João Cancelo 32' João Félix 57' | Pepê 30' |