Golos, magia e reviravolta, sempre pelo pé esquerdo dos predestinados. Guitane, Mujica e David Simão, às ordens das boas graças do destino. O FC Arouca começou a segunda volta do campeonato da mesma forma que iniciou a primeira: com uma vitória diante do Estoril. Desta feita, triunfo ligeiramente mais curto, mas igualmente importante (1-2).
A tarde de sol no Estoril, a fazer lembrar os tórridos dias de verão, certamente não podia ter melhor começo. Guitane preocupou-se com de Arruabarrena e ofereceu-lhe um chapéu. Com espaço, da esquerda para dentro, o esquerdino, num gesto cheio de intenção, picou a bola diretamente para o ângulo superior esquerdo. Um momento de classe, de inspiração, ao alcance de poucos.
Contudo, o jogo não podia acabar ao terceiro minuto e Mujica fez questão de relembrar esse pormaior ao estorilistas, que ainda estavam maravilhados com a obra de Guitane. O espanhol, uma das referências nos visitantes, foi colocado por Cristo numa zona predileta e, chutou com o esquerdo, cruzado, a fugir da zona de ação de Carné. Nem dez minutos e o marcador já bem colorido.
Inevitavelmente, a cadência dos golos diminuiu. Os da casa, pelos pés de um Kobi que está cada vez mais perto de Alvalade — pode, inclusive, ter feito o último jogo pelos canarinhos — rondaram mais as imediações contrárias, mas o FC Arouca nunca tremeu.
A segurança foi meio caminho andado para a vantagem chegar. De canto, com o seu pomposo pé esquerdo, David Simão colocou a bola ao primeiro poste, na cabeça de Esgaio, em perfeitas condições para dizer que sim e fazer o 1-2.
Findado o merecido quarto de hora de descanso, a toada do jogo foi a esperada: consoante o passar do tempo, o caudal ofensivo caseiro subiu de tom, à semelhança da vontade forasteira de guardar a vantagem, em detrimento da sede de engordar do marcador. O empate não aconteceu, mas ficou por centímetros — não fosse um corte imperial de Montero, a roubar um golo cantado a Cassiano, já perto do final.
Desta forma, o FC Arouca passou à frente do Estoril-Praia e subiu à 10ª posição. Do outro lado, a quarta derrota caseira dos estorilistas resultou na descida, até ver, à 14ª posição.
Fo mágico. O gesto técnico foi sublime; viu-se o atrevimento e a intenção em cada segundo do lance. Deixou todos boquiabertos. Por isso, caro leitor, se ainda não viu o primeiro golo do Estoril-Praia, faça um favor a si mesmo e veja. Estamos certos que vai querer ver e rever.
Antes deste jogo, o record não era famoso. 12 golos sofridos em três partidas, o que resulta numa média de quatro golos sofridos por duelo. Com esta partida, melhorou, mas... 14 golos em quatro jogos é um registo insustentável.
Exibição tranquila, com pouco a apontar. Uma dúvida num ou noutro lance, com outras interpretações possíveis, mas João Gonçalves passou despercebido na partida, o que acaba por ser um elogio ao trabalho da arbitragem.