Como ganhar em inferioridade numérica e, a isso, juntar-lhe um candidato a prémio Puskas? Podia ser título de livro mas é a história, real, do triunfo do FC Arouca (2-1) sobre a equipa sensação da Liga Bwin, o Gil Vicente, no final de tarde deste sábado.
O estatuto adquirido por mérito próprio traz destas coisas. Em Arouca, o Gil Vicente deparou-se com um adversário que lhe mostrou respeito na forma como abordou o jogo. Preocupação primária: conter a equipa sensação da Liga. Nesse capítulo, os homens de Armando Evangelistas foram eficazes, ainda que com um ou outro sobressalto por culpa própria.
Porque para além da missão, o FC Arouca não escondeu o nervosismo que o momento da época acarreta, sobretudo para quem vive na corda-bamba da forca. Algumas perdas de bola em zona perigosa incomodaram, em especial aquela aos três minutos que ia dando a Fujimoto o golo cantado; valeu Galovic a intercetar o remate do japonês no fio da navalha.
Ainda assim, e em bom nome da verdade, foi a equipa da casa a dispor das duas melhores ocasiões de golo. Na primeira (6’), Galovic não chegou a tempo de desviar o livre de David Simão; na segunda (37’), Pité teve o golo na cabeça, mas deu-lhe a direção oposta da baliza. De mansinho, o Arouca incomodou Frelih, ameaça que se tornaria real já dentro da segunda parte.
Aquilo que aconteceu na segunda parte ganha dimensão superior pelo contexto. É que a equipa de Armando Evangelista foi para o intervalo já em inferioridade numérica, depois de David Simão ter visto o cartão vermelho direto. A decisão «nasceu» na Cidade do Futebol e Fábio Veríssimo, após consultar as imagens, considerou essa hipótese depois de rever a entrada de «sola» do médio da casa.
Indiferentes. Aliás, melhores e renascidos. Que aos 59 minutos o Arouca estivesse a vencer por 2-0 é a prova de que não há guiões predefinidos no futebol. E se havia, neste caso, André Silva rasgou-o ao mais alto nível.
Em dois atos. Ato um. Minuto 55. Cruzamento de Arsénio e, em antecipação a Lucas Cunha, o ponta de lança brasileiro cabeceou de forma perfeita para colocar a bola no buraco da agulha. Ato dois. Minuto 59. «Antologia»; «olímpico»; «Puskas». Emprestem-lhe o nome que quiserem, mas todos lhe cabem na perfeição. Com Frelih adiantado, André Silva arriscou o remate de… trás do meio-campo e foi feliz. Para ver e rever, de cadeirinha.
O que se seguiu foi o filme esperado: cerco gilista à área arouquense onde, respaldados pelo feito de André Silva, a equipa da casa se sentiu mais confortável do que nunca. Da pressão do Gil Vicente resultou um remate à trave de Fujimoto e um «tiraço» de Lucas Cunha (92') que reduziu a desvantagem numa altura em que Aburjania já tinha sido expulso. O suspense regressou na reta final mas, quase quatro meses depois, o Gil Vicente voltou a perder.
Se o golo é a alegria do futebol, aquele da estirpe que André Silva apontou para o 2-0 é o êxtase total. A muitos, muitos metros da baliza, o avançado viu Frelih adiantado e, vai daí, pontapeou a bola com o controlo remoto na mão; e não é que ela entrou? Um golaço digno do prémio Puskas.
O temperamento pouco contido já lhe é conhecido, mas isso não desculpa a reação. Quando Fábio Veríssimo foi ao VAR antes de expulsar David Simão, o presidente do FC Arouca comportou-se como ninguém pode. Fez frente ao árbitro e ainda foi junto ao ecrã verbalizar a sua insatisfação. Inaceitável.
Teve na expulsão de David Simão o momento mais quente da tarde. A primeira decisão foi no sentido do cartão amarelo, mas alertado pelo VAR decidiu mudar a cor para vermelho. As imagens do lance, com o médio do Arouca a entrar de sola sobre um adversário, justificam a decisão.