Os anos sessenta entravam decididamente no ritmo. 1964 fora o ano em que a Beatlemania chegara finalmente e em força aos Estados Unidos. Mais de 70 milhões de norte-americanos tinham assistido à sua histórica apresentação no «Ed Sullivan Show», um recorde que demoraria longos anos a ser batido...
Depois do assassinato de JFK no ano anterior, Lyndon Johnson era eleito Presidente e pouco depois iniciava-se a Guerra do Vietname, com as primeiras tropas norte-americanas a serem enviadas para o Golfo de Tonquim. Na União Soviética, Leonid Brejnev substituía Nikita Krutchev no Kremlin, mas apesar das mudanças em ambos os lados, a Guerra Fria seguia o seu curso...
O «Incidente do Golfo de Tonquim» espoletou o envolvimento em força dos E.U.A. no teatro de operação do Vietname.
Na Europa, os anos de contenção do pós-guerra davam lugar a uma era de expansão económica, com a população a ganhar um poder de compra sem precedentes.
As divergências continuavam a assolar o continente que permanecia dividido pela «cortina de ferro», mas o desporto, e em particular o futebol, eram a exceção que unia o continente durante esses tempos conturbados.
29 países a caminho do sucesso
O Euro 64 contou com a presença recorde de 29 países. Entre os ausentes destacavam-se os alemães ocidentais e os escoceses, enquanto os gregos desistiram da pré-eliminatória depois de o sorteio os colocar no caminho da Albânia, com os quais tinham cortado relações. Por outro lado, União Soviética, Áustria e Luxemburgo ganharam por sorteio a passagem à primeira eliminatória, evitando a ronda preliminar.
Os luxemburgueses surpreenderam «mais de meio mundo» ao baterem os holandeses (1x1, 2x1). A surpresa só não foi maior porque nesses tempos a Holanda não era ainda a potência que em breve se viria a transformar. Mas para os holandeses a derrota com o pequeno país foi encarada como uma profunda humilhação, abrindo caminho para uma reestruturação do seu futebol que viria a dar cartas nos anos seguintes.
Apesar desta surpresa, o grande confronto da primeira ronda era indubitavelmente aquele que opunha franceses e ingleses. Depois do empate a um golo em Sheffield, na primeira mão, seguiu-se uma retumbante vitória dos bleus por 5x2, para delírio do Parc des Princes, que estava cheio como um ovo. A Inglaterra voltava a marcar passo nas grandes competições, despedindo-se mais uma vez, sem honra, nem glória.
Portugal falha mais uma grande competição
Portugal, por sua vez, caiu logo na primeira eliminatória, perdendo em Sófia, com a Bulgária, por 3x1. Contudo, no Restelo, na segunda mão, igualou a eliminatória respondendo na mesma moeda (3x1), o que obrigou a um jogo de desempate em Roma. Num Estádio Olímpico deserto, os búlgaros venceram por 1x0 e deixaram Eusébio e companhia mais uma vez fora dos grandes palcos...
Nos restantes encontros, dinamarqueses, italianos e espanhóis mostraram a sua superioridade, eliminando respetivamente malteses, turcos e romenos.
Na segunda eliminatória, além da surpresa protagonizada pelo «onze» do Grão-ducado, destacou-se também a eliminação austríaca às mãos da República da Irlanda.
Quartos-de-final sem surpresas
Nos quartos de final, os embates entre soviéticos e suecos por um lado e franceses e húngaros por outro, eram os motivos de destaque. Os húngaros começaram com uma vitória em Paris (1x3), enquanto na Suécia os soviéticos arrancaram um precioso empate. Na segunda mão, o fator casa foi decisivo e franceses e suecos ficaram pelo caminho.
Por sua vez a
Espanha não teve grandes dificuldades em «despachar» a República da Irlanda com uma dupla vitória e um «
score» de 7x1, enquanto a Dinamarca suou para eliminar o Luxemburgo, só conseguido após a realização de um jogo de desempate.
A Espanha de Franco recebe a União Soviética
Marcelino aponta o segundo golo espanhol na final, vitória (2x1) sobre a União Soviética.
Dos quatros finalistas, a
Espanha de Franco foi a que se demonstrou mais entusiasta a organizar o evento. Após um período de consideração a UEFA escolheu sem grande surpresa a
Espanha para assumir a organização, não obstante algum criticismo da opinião pública nas democracias ocidentais.
Madrid e
Barcelona receberam a visita de União Soviética, Hungria e Dinamarca, que se juntavam aos anfitriões na segunda edição da grande festa europeia, agendada para Junho de 1964, em plena canícula espanhola.
O regime de Franco aproveitou a situação para quebrar o isolamento a que a
Espanha se encontrava votada há mais de duas décadas. Uma organização esmerada, com os estádios do Real de
Madrid e
Barcelona a serem recuperados para receberem uma competição religiosamente documentada e acompanhada pela
TVE, televisão pública de
Espanha.
O jogo de abertura foi no Bernabéu, onde os espanhóis bateram os magiares por 2x1, após prolongamento. Mais tarde, nessa mesma noite, a URSS bateu a surpreendente Dinamarca, com uma vitória clara por 3x0 em
Camp Nou.
E «Viva la España!»
Quatro dias depois, a grande final foi disputada no Santiago Bernabéu, com mais de 79 mil espetadores, entre eles, o Generalíssimo Franco que assistiu ao desfilar das duas equipas e viu a bandeira com a foice e o martelo ser hasteada num estádio da sua
Espanha...
O confronto tinha todos os contornos de uma épica batalha. A tensão política entre os dois regimes fizera com que a
Espanha desistisse do confronto com os soviéticos quatro anos antes. Agora, os anfitriões recebiam os «inimigos», campeões em título. A tensão era imensa.
Os jogadores espanhóis festejam a primeira grande conquista do futebol do seu país.
O primeiro golo surgiu logo aos seis minutos e para os da casa, mas dois minutos depois Khusainov empatou o jogo novamente. A igualdade arrastou-se quase até ao final, mas aos 84 minutos, Marcelino fez o 2x1 para os da casa.
Até ao fim os soviéticos tentaram em vão empatar a partida e quando Arthur Holland apitou para o final, a vitória já não escapava aos anfitriões.
Pela primeira vez na história a
Espanha conquistava uma grande competição, conseguindo a seleção nacional igualar os feitos recentes do
Real Madrid na Taça dos Campeões Europeus.