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    História da Edição

    Champions 2022/23: por fim, os cidadãos da Europa!

    Texto por Ricardo Miguel Gonçalves
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    Não será atrevimento dizer que a primeira Liga dos Campeões da história do Manchester City pecou por tardia, já que o clube se tornou numa potência mundial em 2008, quando foi adquirido pelo Sheikh Mansour,

    O mesmo vale para Pep Guardiola, que apesar de ser considerado por muitos como um dos melhores e mais influentes treinadores de sempre, precisou de 12 anos para acrescentar uma terceira orelhuda ao currículo, depois de vencer duas nas suas três primeiras participações na competição.

    Em 2023, ao fim de muitos anos e de um número megalómano de milhões investidos em jogadores e infraestrutura, o mais recente gigante do futebol inglês conseguiu finalmente conquistar a competição que mais queria, com uma vitória sobre o Internazionale na final. Ainda assim, o momento em que o capitão Ilkay Gundogan levantou o reluzente troféu em Istambul não simbolizou apenas a ostentação de uma organização de fundos quase ilimitados, uma vez que foi necessário bom futebol e muita inovação tática no caminho para a coroação...

    Pep e City, dentro e fora da «caixa»

    Para o Manchester City, 2022/23 foi simplesmente perfeito. A 128ª temporada da história do clube e definitivamente a melhor, uma vez que ficou marcada pela conquista da tríplice coroa - Premier League, FA Cup e a tal UEFA Champions League. Tornou-se no oitavo clube a alcançar tal feito e apenas o segundo clube inglês, emulando o 1998/99 do seu rival local (Manchester United).

    Já levavam vários anos como uma grande potência em Inglaterra e na Europa. Tinham sido felizes de todas as formas e feitios, graças à cada vez mais evidente versatilidade tática de Pep, mas a glória europeia continuava a fugir.Quatro quedas nos quartos de final, duas nas meias-finais (incluindo a trágica eliminação da temporada anterior), e até mesmo uma final perdida em 2021, até que a sorte sorriu.

    Haaland foi o melhor marcador da prova, com 12 golos @Getty /
    O que mudou, então? Ora, inicialmente pareceu pragmatismo, uma vez que a equipa que durante tantos anos rejeitou a inclusão de avançados tradicionais, especialmente pós-Aguero, começou a temporada com a contratação de uma jovem força da natureza (evitámos escrever «monstro»...) chamada Erling Haaland e ainda garantiu o igualmente promissor Julian Alvaréz para ser a segunda opção na posição.

    Ainda assim, apesar do impressionante volume de golos marcados e de recordes batidos pelo norueguês, faltava algo... A equipa ainda não estava totalmente afinada e perdeu alguns pontos na Liga, onde foi ficando para trás do Arsenal, até que Guardiola, bem ao seu jeito, riscou esse suposto pragmatismo e implementou alguns processos novos. Um defesa central (John Stones) que em posse encaixava com o médio defensivo (Rodri), para que os outros dois médios (Gundogan e Kevin De Bruyne) avançassem muito mais e formassem um meio-campo em caixa no coração de uma espécie de 3-2-4-1 com cinco jogadores puramente ofensivos, o que permitia encostar os adversários à sua baliza e mesmo assim reagir facilmente à perda. Os primeiros testes tiveram resultados mistos, mas, quando a equipa entrosou, tornou-se ainda mais dominante do que antes. O meio-campo em caixa não demorou muito tempo a aparecer nos esquemas táticos dos rivais, como todas as boas inovações.

    Recordemos a caminhada dos cityzens até ao topo do Olimpo europeu, alcançada com o estatuto de invencível. Depois de vencer confortavelmente um Grupo C que tinha também Borussia Dortmund, Sevilla e Copenhaga, a equipa inglesa abriu o mata-mata com um agregado de 8-1 nos oitavos de final! Primeiro um empate em Leipzig (1-1), e depois uma estrondosa goleada de 7-0, com uma mão cheia de golos de Haaland. Seguiu-se o poderoso Bayern, que foi varrido tranquilamente por 4-1, antes de uma meia-final que prometia mais do que muitas finais...

    Bernardo Silva, um amuleto para Pep Guardiola @Getty /
    O adversário era o Real Madrid, a mesma equipa que tinha eliminado o Manchester City um ano antes, nessa mesma fase, com uma remontada histórica e que seria recordada como o jogo grande da edição anterior. Mais uma vez, merengues cityzens ganhavam todo o protagonismo, pois todos sabiam que o favorito para o troféu chegaria desse embate. A primeira mão terminou em empate (1-1), para aproximar o segundo jogo ainda mais de uma final e aguçar o apetite para um promissor encontro no Etihad. O problema, do ponto de vista espanhol e neutro, foi que dessa vez não houve espaço para brincadeiras... A vingança foi servida com um arrasador 4-0 sobre o campeão em título, patrocinado por um bis de um português que, por uma noite, teve sangue a correr nas veias: Bernardo Silva.

    Dois anos depois, o azul-claro de Inglaterra voltaria a marcar presença na final da maior competição de clubes, dessa vez com ainda maior responsabilidade, pois o adversário era um Inter de Milão que surpreendeu ao chegar tão longe. Os italianos, nunca brilhantes, fizeram uso de uma estrutura sólida no capítulo defensivo e de sorteios favoráveis para chegar à final, cruzando-se apenas com dois clubes portugueses e um rival italiano no caminho para Istambul. Também por esse motivo, poucos ficaram surpreendidos com o desenrolar da final: os italianos, fechados, cederam pouco... mas mesmo assim o Manchester City cumpriu a obrigação e venceu pela margem mínima.

    O troféu que faltava para alcançar o mítico treble @Getty /

    Na final, o golo decisivo foi marcado por Rodri, médio defensivo que apareceu na hora certa para brilhar da forma que menos o caracteriza. Mais tarde, o espanhol foi eleito o melhor jogador de toda a competição.

    Milão foi a dor de Portugal

    Para além do envolvimento de Rúben Dias, Bernardo Silva e João Cancelo na glória cityzen, a edição de 2022/23 da Liga dos Campeões contou com bem mais portugueses. Foi, aliás, uma das raras edições que contaram com três equipas nacionais em prova!

    Lukaku, o carrasco das equipas portuguesas @Kapta+
    O FC Porto, campeão nacional em título, venceu um Grupo B que tinha Club Brugge, Bayer Leverkusen e Atlético Madrid antes de cair nos oitavos de final frente ao eventual finalista Inter de Milão, numa infeliz eliminatória constituída por uma derrota por 1-0 no Giuseppe Meazza, com o único golo a chegar enquanto os portistas jogavam com 10, e um empate sem golos no Dragão que fica marcado por um final em que a turma de Sérgio Conceição encostou os nerazzurri às cordas e rematou aos ferros mais do que uma vez. A campanha ficou também marcada, numa nota mais positiva, pelas assombrosas exibições de Diogo Costa na baliza. Só no mês de outubro, foram três os penáltis defendidos pelo guardião português.

    Já o Sporting, vice-campeão nacional, não conseguiu repetir a façanha do ano anterior e caiu na fase de grupos, o que surpreendeu porque os leões tinham entrado na competição de forma absolutamente demolidora. Abriram o Grupo D com um impressionante 0-3 em Frankfurt, casa do detentor da Liga Europa, e na segunda jornada foram ainda mais longe, batendo o poderoso Tottenham por 2-0 em Alvalade. A passagem parecia embrulhada, até porque se seguiam dois jogos com um Marseille que penava no último lugar do grupo, ainda sem pontos, mas os comandados de Rúben Amorim somaram duas derrotas desastrosas com os franceses. Seguiu-se um empate com os spurs em Londres e na última jornada, dependendo apenas de si mesmo, o Sporting perdeu (1-2) com o Frankfurt e caiu para o terceiro lugar. Aliás, só não ficou arredado da Europa porque o Tottenham, já depois do apito final em Alvalade, marcou um golo que empurrou o Marseille de volta para o último posto!

    Benfica brilhou e quartos souberam a pouco @Kapta+
    O principal representante luso foi o Benfica que, tal como no ano anterior, não se intimidou pelo facto de ter de começar pela fase de qualificação e registou uma prestação brilhante. Venceu o Grupo H, onde estava também o Paris SG e a Juventus, com uma invencibilidade constituída por dois empates com os franceses e duas vitórias frente a cada um dos restantes adversários. Foi o mesmo registo pontual que o PSG de Messi, Mbappé e Neymar, mas o 1-6 no terreno do Maccabi Haifa, na última jornada, valeu aos homens de Roger Schmidt um salto para a liderança graças aos restantes critérios de desempate.

    Esse detalhe provou-se valioso, já que significou um adversário acessível nos oitavos de final (os encarnados tiraram o Club Brugge do caminho com um agregado de 7-1). Depois, no seguimento do sorteio do resto do torneio, os adeptos ganharam um otimismo que não se via há largas décadas, já que acreditavam verdadeiramente numa chegada à final da Liga dos Campeões! Porquê? Ora, não só porque a equipa se apresentava em grande forma em todas as competições, graças a um excelente trabalho do técnico alemão que se estreava em Portugal, mas também porque calhou o Inter de Milão, equipa que eliminara o FC Porto sem impressionar, e em caso de chegada à meia-final o adversário seria o vencedor do duelo entre Milan e Napoli, que eram ambas vistas como acessíveis.

    O sonho cresceu e cresceu, mas ruiu em abril... A águia, que até à semana anterior ao jogo estava invicta no Estádio da Luz, esteve longe do seu melhor nível e perdeu por 0-2 frente aos italianos. Depois, em Milão marcou os três golos de que precisava para virar a eliminatória, mas sofreu outros tantos (3-3) e acabou por cair.

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    U Sábado, 10 Junho 2023 - 20:00
    Atatürk Olympic
    Szymon Marciniak
    1-0
    Rodri Hernández 68'
    Estádio
    Atatürk Olympic
    Lotação76092
    Medidas105m x 70m
    Inauguração2002