Não será atrevimento dizer que a primeira Liga dos Campeões da história do Manchester City pecou por tardia, já que o clube se tornou numa potência mundial em 2008, quando foi adquirido pelo Sheikh Mansour,
O mesmo vale para Pep Guardiola, que apesar de ser considerado por muitos como um dos melhores e mais influentes treinadores de sempre, precisou de 12 anos para acrescentar uma terceira orelhuda ao currículo, depois de vencer duas nas suas três primeiras participações na competição.
Em 2023, ao fim de muitos anos e de um número megalómano de milhões investidos em jogadores e infraestrutura, o mais recente gigante do futebol inglês conseguiu finalmente conquistar a competição que mais queria, com uma vitória sobre o Internazionale na final. Ainda assim, o momento em que o capitão Ilkay Gundogan levantou o reluzente troféu em Istambul não simbolizou apenas a ostentação de uma organização de fundos quase ilimitados, uma vez que foi necessário bom futebol e muita inovação tática no caminho para a coroação...
Para o Manchester City, 2022/23 foi simplesmente perfeito. A 128ª temporada da história do clube e definitivamente a melhor, uma vez que ficou marcada pela conquista da tríplice coroa - Premier League, FA Cup e a tal UEFA Champions League. Tornou-se no oitavo clube a alcançar tal feito e apenas o segundo clube inglês, emulando o 1998/99 do seu rival local (Manchester United).
Já levavam vários anos como uma grande potência em Inglaterra e na Europa. Tinham sido felizes de todas as formas e feitios, graças à cada vez mais evidente versatilidade tática de Pep, mas a glória europeia continuava a fugir.Quatro quedas nos quartos de final, duas nas meias-finais (incluindo a trágica eliminação da temporada anterior), e até mesmo uma final perdida em 2021, até que a sorte sorriu.
Ainda assim, apesar do impressionante volume de golos marcados e de recordes batidos pelo norueguês, faltava algo... A equipa ainda não estava totalmente afinada e perdeu alguns pontos na Liga, onde foi ficando para trás do Arsenal, até que Guardiola, bem ao seu jeito, riscou esse suposto pragmatismo e implementou alguns processos novos. Um defesa central (John Stones) que em posse encaixava com o médio defensivo (Rodri), para que os outros dois médios (Gundogan e Kevin De Bruyne) avançassem muito mais e formassem um meio-campo em caixa no coração de uma espécie de 3-2-4-1 com cinco jogadores puramente ofensivos, o que permitia encostar os adversários à sua baliza e mesmo assim reagir facilmente à perda. Os primeiros testes tiveram resultados mistos, mas, quando a equipa entrosou, tornou-se ainda mais dominante do que antes. O meio-campo em caixa não demorou muito tempo a aparecer nos esquemas táticos dos rivais, como todas as boas inovações.
Recordemos a caminhada dos cityzens até ao topo do Olimpo europeu, alcançada com o estatuto de invencível. Depois de vencer confortavelmente um Grupo C que tinha também Borussia Dortmund, Sevilla e Copenhaga, a equipa inglesa abriu o mata-mata com um agregado de 8-1 nos oitavos de final! Primeiro um empate em Leipzig (1-1), e depois uma estrondosa goleada de 7-0, com uma mão cheia de golos de Haaland. Seguiu-se o poderoso Bayern, que foi varrido tranquilamente por 4-1, antes de uma meia-final que prometia mais do que muitas finais...
Dois anos depois, o azul-claro de Inglaterra voltaria a marcar presença na final da maior competição de clubes, dessa vez com ainda maior responsabilidade, pois o adversário era um Inter de Milão que surpreendeu ao chegar tão longe. Os italianos, nunca brilhantes, fizeram uso de uma estrutura sólida no capítulo defensivo e de sorteios favoráveis para chegar à final, cruzando-se apenas com dois clubes portugueses e um rival italiano no caminho para Istambul. Também por esse motivo, poucos ficaram surpreendidos com o desenrolar da final: os italianos, fechados, cederam pouco... mas mesmo assim o Manchester City cumpriu a obrigação e venceu pela margem mínima.
Na final, o golo decisivo foi marcado por Rodri, médio defensivo que apareceu na hora certa para brilhar da forma que menos o caracteriza. Mais tarde, o espanhol foi eleito o melhor jogador de toda a competição.
Para além do envolvimento de Rúben Dias, Bernardo Silva e João Cancelo na glória cityzen, a edição de 2022/23 da Liga dos Campeões contou com bem mais portugueses. Foi, aliás, uma das raras edições que contaram com três equipas nacionais em prova!
Já o Sporting, vice-campeão nacional, não conseguiu repetir a façanha do ano anterior e caiu na fase de grupos, o que surpreendeu porque os leões tinham entrado na competição de forma absolutamente demolidora. Abriram o Grupo D com um impressionante 0-3 em Frankfurt, casa do detentor da Liga Europa, e na segunda jornada foram ainda mais longe, batendo o poderoso Tottenham por 2-0 em Alvalade. A passagem parecia embrulhada, até porque se seguiam dois jogos com um Marseille que penava no último lugar do grupo, ainda sem pontos, mas os comandados de Rúben Amorim somaram duas derrotas desastrosas com os franceses. Seguiu-se um empate com os spurs em Londres e na última jornada, dependendo apenas de si mesmo, o Sporting perdeu (1-2) com o Frankfurt e caiu para o terceiro lugar. Aliás, só não ficou arredado da Europa porque o Tottenham, já depois do apito final em Alvalade, marcou um golo que empurrou o Marseille de volta para o último posto!
Esse detalhe provou-se valioso, já que significou um adversário acessível nos oitavos de final (os encarnados tiraram o Club Brugge do caminho com um agregado de 7-1). Depois, no seguimento do sorteio do resto do torneio, os adeptos ganharam um otimismo que não se via há largas décadas, já que acreditavam verdadeiramente numa chegada à final da Liga dos Campeões! Porquê? Ora, não só porque a equipa se apresentava em grande forma em todas as competições, graças a um excelente trabalho do técnico alemão que se estreava em Portugal, mas também porque calhou o Inter de Milão, equipa que eliminara o FC Porto sem impressionar, e em caso de chegada à meia-final o adversário seria o vencedor do duelo entre Milan e Napoli, que eram ambas vistas como acessíveis.
O sonho cresceu e cresceu, mas ruiu em abril... A águia, que até à semana anterior ao jogo estava invicta no Estádio da Luz, esteve longe do seu melhor nível e perdeu por 0-2 frente aos italianos. Depois, em Milão marcou os três golos de que precisava para virar a eliminatória, mas sofreu outros tantos (3-3) e acabou por cair.
1-0 | ||
Rodri Hernández 68' |