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    A Tasca do Silva
    Paulo Silva

    28 de abril, sempre!

    2024/04/26
    E2
    A Tasca do Silva é o espaço de opinião sobre e à volta do FCP, dinamizado por Paulo Silva, um dos podcasters responsáveis por A Culpa é do Cavani, o podcast de referência do universo portista.

    1. Esta noite estou tão frágil

    O FCP está frágil. Fechado sobre si mesmo, embrenhado numa luta interna, está exposto a eventuais ataques e menos capaz de lidar com as suas debilidades. 

    Após mais de quatro décadas de poder praticamente absoluto, era inevitável que a mais ténue perspetiva de mudança nos trouxesse aqui. Do mesmo modo, a mudança é, em alguma altura, uma certeza. "Not even stars last forever", pelo que, mais tarde ou mais cedo, aqui estaríamos. 

    Assistimos, sem margem para dúvidas, ao nascimento de um novo FCP. Ainda que Pinto da Costa venha a ganhar as eleições de daqui a pouco, o clube não voltará a ser o mesmo. O tempo do unanimismo terminou, a espécie de ditadura paternal em que vivemos há décadas - por nossa escolha, em nosso benefício e para nosso grande conforto, diga-se - acaba nesta campanha eleitoral. Pelo simples facto de ela ter existido. Resta saber se nós, portistas, estamos preparados para este admirável mundo novo.

    2. Erros meus, má fortuna

    A alternativa AVB não nasceu, do meu ponto de vista, de modo brilhante. Aquela aura de esotérico sebastianismo do predestinado é, para ser simpático, muito menos do que os portistas merecem. Enquanto argumento é ridículo e como declaração de intenções é ainda pior. E, no entanto, AVB soube, a partir daí, criar um movimento que ganhou peso, arrastou mais gente do que os adversários supunham e capitalizou boa parte do descontentamento dos portistas. Numa campanha "à americana", pareceu sempre marcar o ritmo dos dias e obrigou os seus adversários a seguirem os seus passos. 

    Ganha o FCP, ao transformar-se, quase de súbito, numa mole diversa que discute ideias, debate soluções, se apaixona por caminhos distintos. E, claro, se deixa arrastar em exageros e se mobiliza em polos opostos, fragilizando-se por um momento.

    Na minha opinião, AVB cometeu dois grandes erros: primeiro, por mero taticismo eleitoral, deixou-se prender à continuidade de Sérgio Conceição. Bastaria ter recusado, desde o início, comentar a questão do treinador. Mas receou perder os adeptos ferrenhos do técnico e temeu, creio, que os bons resultados que todos desejávamos o colocassem fora da corrida. Perdeu duas vezes e está, agora, refém da sua própria palavra e de um homem com contrato assinado por mais quatro anos. Depois, falhou redondamente na questão da comunicação da Academia que afinal é um Centro de Alto Rendimento.

    Fora isso, sem precisar de ser particularmente criativo e seguindo à risca um guião pré-determinado, apresentou as falhas que tantos vêm apontando há tanto tempo, questionou o compadrio e a clientela, apontou à modernidade. E isso vale-lhe, neste preciso momento, uma possibilidade real, e até agora nunca vista, de destronar Jorge Nuno Pinto da Costa.

    Por sua vez, a candidatura do Presidente dos Presidentes não teve um ponto de partida mais feliz do que o seu adversário. De facto, sustentar na renovação, numa nova visão, em métodos inovadores e ideias revolucionárias, a candidatura de quem leva 42 anos de poder é, no mínimo, estranho. Como se perguntou em "A Culpa é do Cavani", afinal, porque é que o candidato quer tanto correr com a atual direção?

    Por outro lado, obrigou-se a uma nova equipa, a, efetivamente, abraçar uma era nova que o obriga, como nunca, a repetir "disso não sei, não é comigo", mais vezes do que em quatro décadas. A, pelo menos, esboçar uma inovadora delegação de competências. E, sobretudo, a ir para a rua e demonstrar uma energia que talvez já não lhe suspeitassem. 

    Não tenhamos dúvidas, trata-se de uma fação que tenta tomar um castelo fortificado e de um exército que procura salvar o seu modo de vida. Quem esperava um debate particularmente elevado estava, naturalmente, redondamente enganado. O facto de, creio, a decisão final depender apenas da capacidade de mobilização para o momento H, é deveras surpreendente e nunca prevista pela direção atual. Que já não será a futura, tal a mudança que Pinto da Costa imprimiu às suas listas.

    3. Amor ardente

    Do que nenhum dos candidatos cuidou foi do mais importante: o dia 28. Esse sim, será o momento definidor do futuro próximo do FCP. Se era inevitável estarmos assim a 27, é imprescindível que comecemos a ganhar musculo e energia já a 28. Sem purgas, sem vendetas, sem vinganças ou ajustes de contas. Se assim não for, serão longos e penosos os muitos anos de escuridão do FCP. E isso não tem sequer a ver com quem ganha eleições.

    Da divisão de hoje, é importante que nasça a união de amanhã. União não tem de ser unanimismo. Será na nossa diversidade que poderemos caminhar sob o espírito do Dragão. Juntos, mas não o mesmo. Em comunhão, mas nunca mais de olhos fechados, em rebanho.

    Seja quem for o próximo presidente do FCP, o seu trabalho será escrutinado como nunca. Isso é bom, desde que possamos evitar o bota abaixo e o mero jogo "político". Cá estaremos, prontos para festejar, aplaudir, gritar pelo nosso FCP, ao mesmo tempo que apontaremos o que estiver mal e exigiremos as soluções que nos prometeram. Não mais nos satisfaremos com menos. 

    Votaria sem pestanejar no candidato que garantisse que a 28 falaria com o seu opositor, procuraria os pontos comuns, debateria os projetos e tentaria perceber quais beneficiariam o clube para que os pudesse implementar. Naquele que, perdendo, colocasse os recursos que ambos anunciaram à disposição do clube. Porque o mais importante é o 28 de abril, sempre! Nenhum o fez.

    Nesse dia encheremos o Dragão e gritaremos a uma voz pelo nosso amor. Semanas depois, viajaremos 600 quilómetros para ser acantonados num parque de estacionamento em Oeiras, na esperança de ver a nossa indomável e imortal azul e branca a subir ao mastro mais alto. Com Pinto ou Villas, Jorge Nuno ou Luis André, o Porto continuará a ser nosso e não nos voltaremos a esquecer disso. Se o vencedor se esquecer, teremos aprendido como se diz next, please.

    Outros disparates sobre bola, a vida e copos de 3 em http://atascadosilva.blogspot.com



    Comentários

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    motivo:
    ENGANO NA DATA!
    2024-04-28 16h15m por JotaGo
    A data histórica, é a seguinte: 27 de Abril, sempre!
    Então está decidido
    2024-04-27 01h01m por EspecialistaDaBola
    "Votaria sem pestanejar no candidato que garantisse que a 28 falaria com o seu opositor, procuraria os pontos comuns, debateria os projetos e tentaria perceber quais beneficiariam o clube para que os pudesse implementar. "

    Então está escolhido AVB porque foi o único que respeitou o adversário, que se mostrou agradecido pelo passado do presidente, que lhe chamou o maior dos presidentes. É o único que entrou nesta campanha com vontade de conciliar o futuro com o passado. O ou...ler comentário completo »

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