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      A preto e branco
      Luís Cirilo Carvalho

      Uma Taça longe demais?

      2024/04/04
      E0
      "A Preto e Branco” é uma coluna de opinião que procurará reflectir sobre o futebol português em todas as suas vertentes, de uma forma frontal e sem tibiezas nem equívocos, traduzindo o pensamento em liberdade do seu autor sobre todas as questões que se proponha abordar.

      Devem ter rejubilado, FPF e patrocinadores da prova, quando constataram que as meias-finais da Taça de Portugal iam ser disputadas pelos quatro clubes com maior número de adeptos, o que garantia grandes assistências nos estádios e shares televisivos muito prometedores, até porque dois dos jogos iam ser transmitidos em canal aberto pela RTP.

      O facto de serem os dois jogos entre Benfica e Sporting é uma anormalidade apenas possível num canal que não é de serviço público, como gosta de se intitular, mas apenas de serviço a alguns públicos como essa opção bem demonstrou, mas não é esse o tema deste texto. Porque é sobre futebol jogado.

      E sobre futebol jogado é justo começar por referir a eliminatória já decidida e que, disputada entre os dois clubes de Lisboa, resultou em dois grandes espetáculos futebolísticos, especialmente o segundo jogo, pouco comum no panorama do nosso futebol, normalmente jogado de forma menos qualitativa e exuberante.

      Grande exibição do Sporting na primeira mão que venceu por 2-1, mas em que ficou a dever a si próprio mais golos porque foi claramente superior ao adversário e podia ter feito a viagem até ao outro lado da segunda circular com a eliminatória resolvida...

      Mas não o conseguiu e foi para a Luz com tudo em aberto. Onde se assistiu a um grande jogo de futebol, de parada e resposta, com muitas oportunidades de golo em ambas as balizas, mas desta feita com o Benfica a ser superior e a ficar com razão de queixa de si próprio por não ter materializado o domínio em golos.

      O resultado castiga o Benfica porque mereceu vencer este jogo, mas premeia o Sporting porque foi melhor no conjunto da eliminatória e é um justo finalista.

      A norte está apenas jogada a primeira mão, pelo que ainda não se sabe qual o segundo finalista. O resultado do jogo de ontem coloca o Futebol Clube do Porto em vantagem face a um Vitória que deu uma pálida imagem de si próprio, uma vez que perdeu com justiça e, assim, se arrisca a colocar a Taça como um objetivo longe demais, face ao resultado e ao facto de a decisão ser em casa do adversário. 

      E sobre este jogo há algumas coisas a dizer também.

      Desde logo confirmou a impressão com que já tinha ficado do jogo da primeira volta do campeonato, que numa singularidade só possível neste futebol português foi também (muito mal) apitado pelo mesmo árbitro, e que é a de estarmos perante a pior equipa do Porto deste século.

      Uma equipa onde com três ou quatro exceções (Diogo Costa e Pepe de certeza e Galeno, Varela e Pepê com alguma boa vontade) já não há jogadores superiores à média, o que não retirando a muitos o facto de serem bons jogadores, não faz deles aqueles jogadores que fazem a diferença.

      E o Vitória, ao contrário, por exemplo, do Estoril, não soube tirar partido disso nas duas vezes que defrontou o Porto até agora. No jogo do campeonato porque o árbitro não deixou e no de ontem por culpa própria e mérito do adversário.

      E porquê?

      Porque pese embora a meritória carreira que a equipa vem fazendo, há realidades que são inegáveis. Uma delas passa pelo desgaste físico de algumas das principais unidades do plantel, e para o facto de não haver no banco alternativas em quantidade e qualidade suficientes para permitir dar algum descanso aos titulares mais desgastados.

      A época começou muito cedo, por via da participação na malfadada pré-eliminatória da Liga das Conferências e, a par disso, nos últimos seis meses o Vitória perdeu André Silva, Dani Silva, Anderson Silva, André Amaro, Ibrahima Bamba, Alisson Safira, Nicolas Janvier e Nélson da Luz (uns vendidos e  Nélson emprestado) o que causou um tremendo rombo na qualidade do plantel como é bom de ver.

      E se para os centrais foram encontradas soluções à altura, já para os três pontas de lança estamos muito longe de se poder dizer o mesmo - Anderson foi o melhor marcador do Vitória na época passada e André estava a ser nesta. Já Nélson Oliveira ainda não rendeu o que está ao seu alcance, Adrian Butzke não fez um único golo e Kaio César tem apenas dezanove anos e chegou do Brasil há poucas semanas.

      Um “hara quiri” na gestão desportiva que a equipa e as suas aspirações começam agora a pagar duramente. É isto um atirar de toalha ao chão face ao desfecho da eliminatória? Nem pensar.

      Há um jogo para disputar, há uma desvantagem longe de ser irreversível, há um adversário que foi superior no jogo de ontem, mas está longe de ser um papão pelas razões atrás apontadas. Havendo também duas realidades claras e que não ajudam o Vitória.

      A Taça de Portugal corresponde para o Porto o salvar de uma época em que ainda não ganhou nada e nada mais pode ganhar e também há umas eleições no clube portista que inevitavelmente estarão presentes neste jogo, porque as coisas são o que são.

      Seja como for, acredito que o Vitória irá ao Dragão discutir a eliminatória até ao último fôlego e, se não vai numa posição mais vantajosa, só se pode queixar de si próprio por via do enfraquecimento do plantel atrás apontado que compromete as aspirações da equipa nesta prova e no campeonato.

      Mas enquanto há vida há esperança!



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