Diário de bordo, Marselha: não nos mentiram quando falaram em fanatismo...

Se as competições europeias têm um sabor especial para os jogadores e para os clubes em geral, para nós, jornalistas, as provas internacionais assumem também grande importância.

No caso em concreto do zerozero, o acompanhamento das equipas portuguesas no estrangeiro marca um grande passo na nossa caminhada. Nascido como uma base de dados, o nosso portal cresceu depois para a vertente jornalística e a verdade é que, nos últimos anos, temos marcado presença na grande maioria das deslocações das equipas lusas.

O sorteio dos quartos-de-final da Liga Europa ditou que o Benfica teria de se deslocar ao Stade Vélodrome e, como não podia deixar de ser, estivemos em Marselha.

E não, caro leitor. Agora que a eliminação dos encarnados está consumada, não temos uma última carta na manga em termos de reportagens para lhe apresentar. Este artigo é sim uma breve descrição do período que passámos no sul de França.

Acompanhe-nos nesta viagem!

Futebol e religião

Quantas vezes já vimos estas duas expressões associadas? Quantas vezes ouvimos adeptos da modalidade dizerem que o futebol é a sua religião? Pois bem, em Marselha encontrámos o sentido literal desta ligação. 

A vista a partir da Basílica @Diogo Matos/zerozero

Confuso? A explicação é simples.

Depois de um primeiro dia (quarta-feira) praticamente passado em trânsito e no qual chegámos ao estádio do Marseille a poucos minutos da conferência de imprensa de antevisão ao jogo de Roger Schmidt, aproveitámos a manhã de quinta-feira, dia do jogo, para conhecermos um pouco a cidade. Fazendo uso das dicas de Pedro Miguel Vasco, diretor comercial de uma empresa de cruzeiros com quem falámos antes da viagem, começámos por explorar a Basílica de Notre-Dame de la Garde.

Saímos na estação de metro de Castellane e, após uma caminhada de 25 minutos, chegámos a um dos pontos de referência da cidade. Além da beleza que a catedral apresenta a nível arquitetónico, a importância da mesma a nível religioso é também inegável. Voltando atrás, é aqui que entra também o futebol. 

Nos 30 minutos em que estivemos na Basílica, cruzámo-nos com cerca de duas dezenas de pessoas. Não é que tenhámos estado a contar, mas seguramente metade delas tinhas adereços relativos ao Marseille. De cachecóis a camisolas, passando ainda por fatos de treino completos, demonstrações de apoio ao clube neste local sagrado não faltaram. Estariam os fãs marselheses a pedir apoio divino para o jogo de mais tarde? Se foi o caso, deu resultado... 

Grafiti de Luiz Gustavo, ex-jogador do Marseille @Diogo Matos/zerozero

Descemos depois, acompanhados por uma boa dose de vento, até à zona do Porto Velho. O sol raiava alto no céu, pelo que não foi de estranhar que muitas pessoas aproveitassem para beber algo nas várias esplanadas (bem resguardadas) que existem no local. A isto juntava-se ainda a venda de peixe fresco.

Seguiu-se depois o bairo Le Panier no nosso roteiro, local cujas paredes estão cobertas de arte. Mais uma vez, a ligação da cidade com o clube ficou bem patente, já que foram vários os grafitis que vimos com referências ao Marseille.

Já depois de uma rápida passagem por uma loja de artigos em segunda mão, na qual comprámos uma camisola do Real Oviedo por 4 euros, era hora de regressarmos de metro ao hotel, que ficava nas imediações do Stade Vélodrome.

Um apoio sem fim  

Filipe Azevedo, ex-jogador do Marseille, e Álvaro Magalhães, antigo internacional português que jogou no recinto em 1984, haviam-nos alertado para o quente ambiente que esperava o Benfica no Vélodrome. Sendo certo que estávamos alertados, a verdade é que a realidade superou bastante a expectativa.

Para começar, os adeptos do Marseille começaram a juntar-se nas imediações do estádio quando faltavam cerca de seis horas para o apito inicial. Com alguma cerveja à mistura, não faltaram cânticos, petardos, tochas e até fogo de artifício. Tudo isto cá fora!

A infraestrutura do estádio, só por si, já é assinalável. A forma ondulada das bancadas confere ao Vélodreme um aspeto único e que cativa quem assiste a um jogo em Marselha. 

O incrível ambiente do Vélodrome @Diogo Matos/zerozero

As bancadas foram-se compondo a bom ritmo na hora que antecedeu o jogo e o momento em que os jogadores do Benfica subiram ao relvado para verem o ambiente serviu logo de aviso, isto na medida em que houve um coro de assobios ensurdecedor. As claques do Marseille- South Winners em evidência num dos topos e Dodger's em destaque no outro- não estiveram com meias medidas no que ao apoio diz respeito e fizeram-se ouvir durante todo o jogo (é importante realçar que os adeptos do Benfica também se fizeram ouvir em certos momentos).

O golo de Moumbagna, numa primeira fase, e a confirmação da passagem dos franceses, numa segunda, fizeram explodir o recinto, num registo digno de vulcão a entrar em erupção. Apesar de o jogo ter resultado na eliminação da equipa portuguesa em prova, esta será, com toda a certeza, uma daquelas experiências que nós, enquanto jornalistas, não vamos esquecer.

Já em Portugal, a 'mensagem' é clara: continue a acompanhar-nos por essa Europa fora, o nosso compromisso será sempre apresentar-lhe o melhor conteúdo possível!