António Silva vs. Gonçalo Inácio: «São muito maduros para a idade»

Dois centrais. Dois internacionais lusitanos. Dois jovens. Dois imponentes muros. São mais as semelhanças do que as diferenças que separam António Silva e Gonçalo Inácio. A superlativa qualidade leva a que integrem o pacote de principais referências do campeonato português.

No entanto, com cada vez mais cadência, surge uma questão que não quer calar: Quem é melhor? A grande rivalidade entre Benfica e Sporting atrai mais lenha para a fogueira desta acesa discussão. Diversos atributos dos atletas, desde a compostura ao recorte técnico, são tidos em consideração para as habituais conversas de café.

De forma a atingirmos palpáveis conclusões, o zerozero analisou vários dados estatísticos associados à atual época dos protagonistas, debruçando-se, ainda, nas respetivas trajetórias individuais. A conversa com Tonel também foi crucial para a obtenção de um ponto de vista fundamentado.

Escondidos na sombra para uma ascensão meteórica

Para além do perfil global, as similaridades são também notáveis no que toca ao percurso. Com 12 anos, o futebolista da Luz abandonou a CB Viseu, e o respetivo conforto da sua terra natal, em busca do seu sonho. António Silva desenvolveu todas as suas capacidades no Seixal para, posteriormente, ter uma chance na turma principal.

@Kapta+

Uma história que, com as devidas diferenças, Inácio certamente se revê bastante. O Sporting chamou pelos serviços do jovem jogador quando o mesmo tinha, apenas, 11 anos. Como tal, o menino disse 'adeus' ao Almada AC. No conforto da nova casa, o seu inegável talento despertou a atenção de Rúben Amorim, que não mostrou qualquer receio em apostar na jóia leonina.

Porém, antes do visível sucesso nos pedestais mais altos, os dois jogadores viviam na sombra de um determinado companheiro de posição. Na mais recente conquista da Youth League, o olhar atento dos adeptos das águias recaia sobre o capitão Tomás Araújo. No que toca ao setor defensivo, era o central proveniente de Vila Nova de Famalicão o mais cotado a assumir um papel de destaque com a chegada de Roger Schmidt.

Contudo, o pequeno António chegou, viu e venceu na preparação para o arranque da temporada 2022/23, mostrando valências mais vincadas que o colega. O atleta que perdeu o comboio acabou por ser cedido ao Gil Vicente, de forma a amadurecer no maior patamar futebolístico do solo lusitano.

Já em Alcochete, os holofotes da esperança estavam todos apontados para Eduardo Quaresma. O futebolista de 22 anos contava até com mais internacionalizações nas camadas jovens da seleção que o seu parceiro de setor. Para além disso, foi lançado às feras com uma maior antecedência. Na temporada 2019/20, para ser mais preciso.

@Kapta+

Apesar de treinar com o plantel principal na mesma época, o esquerdino estreou-se na equipa A em 2020/21, diante do Portimonense. O resto é um belo conto que já toda gente conhece. A título de curiosidade, Bruno Fernandes mostrou toda a sua maestria no scouting, numa entrevista concedida ao Record, em 2019: quando questionado sobre as promessas escondidas no baú leonino, o médio valorizou, previamente, todo o potencial de Gonçalo Inácio. A surpreendente resposta viria a ser acertadíssima.

«Têm potencial para chegar aos maiores clubes do estrangeiro»

Tonel contou com passagens no Dinamo Zagreb, Sporting, entre outros célebres emblemas do futebol lusitano. O antigo futebolista teve, ainda, a oportunidade de vestir a camisola da Seleção das Quinas por duas ocasiões - na qualificação para o Euro 2008, frente ao Cazaquistão, e num amigável diante da China, em 2010.

@Getty /

O ex-central garantiu que as duas jovens promessas são semelhantes nas suas respetivas abordagens ao jogo: «São dois jogadores bastante parecidos, muito maduros para a idade que têm. O Gonçalo [Inácio] é dois anos mais velho e, como tal, tem mais experiência. No entanto, com 20 anos, é impressionante a compostura que o António [Silva] possui. Posicionam-se, naturalmente, bem, são concentrados e têm bom timing no desarme.» 

«Há mais coisas que os aproxima do que aquelas que os distingue. Não acho que sejam centrais muito rápidos, mas também não são lentos. Saem tranquilamente com a bola no pés, sempre com a cabeça levantada, e encontram facilmente linha de passe. O Gonçalo tem mais capacidade para esticar o jogo, já o António procura menos o risco, com passes mais curtos. É algo que o Roger Schmidt certamente lhe pede», acrescentou.

Questionado sobre quem atravessa uma melhor fase, o comentador desportivo surpreendeu na resposta: «Sinto que nenhum dos dois jogadores está no seu pico de forma, mas também acho que nenhum deles está num nível muito abaixo [risos]. Neste último jogo na Luz, o Inácio, por exemplo, falhou mais passes do que é o habitual, capítulo onde costuma ser muito assertivo. É uma questão que eu não consigo responder....»

Tonel salientou, ainda, que ambos os atletas podem chegar a um «patamar mais alto»: «Apesar de já estarem nos maiores clubes de Portugal, ainda podem chegar mais longe. Têm potencial e qualidade para chegarem aos principais emblemas do estrangeiro, nos diversos países. Para além disso, terão um grande futuro pela frente na seleção nacional.»

@Catarina Morais / Kapta +

Na visão do espinhense, tanto um como o outro irão integrar a restrita convocatória de Roberto Martínez rumo ao Euro 2024: «Em condições normais, não havendo lesões, os dois vão fazer parte da lista. Temos uma opção incontornável que é o Rúben Dias. O Pepe já não vai para novo, mas continua a ser uma peça importante.»

Centrais escrutinados pelos números

Cada vez mais as recolhas estatísticas são relevantes para avaliar os desempenhos coletivos e individuais. Como tal, o zerozero mergulhou na plataforma FBref, especialista no respetivo tópico, de forma a tentar compreender em quais métricas os centrais se destacam.

A análise teve como base o top-10 da atual edição da Liga Portugal Betclic nos diferentes parâmetros. Este detalhado escrutínio permitiu, assim, um maior conhecimento sobre os principais pontos fortes dos defesas, bem como as principais opções tomadas no terreno de jogo.

@Kapta+

No que toca ao capítulo do passe, tanto António Silva como Gonçalo Inácio reinam em requisitos distintos. O jogador do Benfica ocupa o primeiro posto geral quando o tópico é 'Percentagem de Passes Completados' (92,5%). Enquanto o atleta de 22 anos bate a concorrência em 'Passes no Último Terço' (161), fruto da elevada posse de bola do emblema de Alvalade.

O futebolista proveniente do Seixal integra, ainda, a oitava posição nos melhores registos associados aos 'Passes Progressivos' (153), ou seja, que permitem à equipa encurtar a distância até à baliza contrária. Também no critério 'Toques na Bola' (1913), só João Neves está à sua frente.

@Filipe Amorim / Kapta+

Os dois jogadores também são célebres pelas respetivas qualidades na condução do esférico. Desta forma, no que toca à 'Condução Progressiva', Gonçalo Inácio e António Silva integram a conceituada caderneta. O comandado de Amorim ocupa o segundo posto (4.097 km), já o jogador das águias fecha o pódio (4.044 km) de uma lista liderada por Nicolás Otamendi.

Uma das funções mais preponderantes para um interveniente que atua numa zona mais recuada é, certamente, o paradigma qualitativo nas interceções. Para as contas deste duelo, o viseense leva o respetivo ponto, já que, entre os dois concorrentes, é o único que surge nas tabelas classificativas aliadas aos 'Desarmes Ganhos' (37), 'Bloqueios' (44) e 'Percentagem de Duelos Um-Para-Um Ganhos' (73,3%).

Inácio mais atrevido e António em modo muralha

António Silva 2023/2024

42 Jogos  3683 Minutos

2

7

2

0

2x

ver mais �

Ambos os futebolistas não têm medo de progredir no terreno com a bola controlada, destabilizando, assim, a primeira barreira defensiva do adversário. Por fim, o pupilo de Schmidt, esta temporada, tem sido mais eficiente nas suas abordagens defensivas.

Gonçalo Inácio 2023/2024

40 Jogos  2939 Minutos

4

10

0

1

2x

ver mais �

Com o intuito de encerrar a reportagem, nada melhor que uma curiosidade matematicamente extraordinária: António Silva leva 2.148 minutos de jogo para o campeonato e, no período em que esteve em campo, a sua equipa sofreu 19 tentos. Na outra face da moeda, Gonçalo Inácio disputou 1.809 minutos da prova, com os leões a concederem 16 golos neste intervalo de tempo.

Após uma simples conta de dividir, é possível denotar-se que ambos os conjuntos lisboetas, com os elementos mencionados anteriormente em campo, sofrem, em média, uma finalização certeira para a Liga a cada 113 minutos (!). Nem os números conseguem esconder-se das parecenças...