Foi o final do jogo e avizinha-se que assim seja o final da época para Boavista e Estrela. Estreia — na segunda passagem — do «oito ao oitenta» para Jorge Simão ao serviço do Boavista. Num jogo equilibrado, Rodrigo Pinho tentou estragar a festa, mas um golo de Abascal, já nos descontos, dividiu os pontos (1-1) e embrulhou a luta pela manutenção.
Se a história é feita de pessoas, Boavista e Estrela provaram ser históricos — como se dúvidas existissem. Os milhares que embelezaram as bancadas do mítico Bessa foram, desde o apito inicial, sensacionais. Mostraram-se, ecoaram cânticos de apoio e, certamente, orgulharam quem despendeu parte da vida para engrandecer o respetivo clube.
Dentro das quatro linhas, o espetáculo não esteve ao mesmo nível, mas é injusto afirmar que tenha sido mau. Antes pelo contrário. O primeiro tempo foi equilibrado, aguerrido e de parada e resposta.
De um lado, houve um Kikas irrequieto e destemido, no meio de dois gigantes, e um Jabá de pontaria afinada — o poste, à passagem do quarto de hora, que o diga. Do outro, houve um Agra inconformado, constante desequilibrador pela esquerda, e um Bozeník oportuno e insistente, mas infeliz — saiu lesionado, após desperdiçar a melhor ocasião axadrezada dos primeiros 45'. Só não foi a melhor ocasião de todo o primeiro tempo porque, já nos descontos, João Gonçalves impediu o golo cantado. Pedro Malheiro perdeu a bola em zona imperdoável, Jabá agradeceu e lançou Kikas, que atirou sem oposição para a estirada da tarde.
O período após o regresso dos balneários foi, provavelmente, o menos entusiasmante. Contudo, foi preciso esse passo atrás para dar dois à frente. A partir 60 minutos, o jogo desamarrou-se lentamente; Leo Jabá testou novamente o remate e o Boavista cercou a área de Brígido, mas o momento alto estava guardado para a entrada no último quarto de hora.
Aí, num livre direto em zona frontal, ainda muito distante da baliza, Rodrigo Pinho assumiu a marcação. De frente para a bola, com muito balanço — estilo Roberto Carlos — o avançado encheu o pé e rubricou um golo memorável. Tiraço, sem hipótese de defesa.
O Boavista, em desvantagem, arregaçou as mangas e tentou. Jorge Simão mexeu na equipa e, dentro de campo, os jogadores entenderam a mensagem: dar tudo até ao último apito. Bruno Brígido mostrou-se inspirado e, com duas grandes defesas, adiou o inevitável. Já em tempo de compensação, Abascal apareceu sozinho ao segundo poste e empurrou, de cabeça, para o fundo das redes do teimoso guarda-redes adversário.
Desta forma, Boavista e Estrela continuam embrulhados, a tentar fugir a todo o custo do lugar de play-off. De momento, os boavisteiros estão na 13ª posição, com 30 pontos, enquanto os estrelistas ocupam o 15º posto, com 29 pontos.
Belíssima moldura humana no Bessa. Muitos adeptos do Estrela e, como é lógico, ainda mais do Boavista. Não ficaram em casa, fizeram-se ouvir, cantaram até ao final e foram parabenizados com emoção até ao final. Embelezaram o espetáculo!
O jogo ficou bem melhor após ter sido quebrado o nulo. Desta forma, fica a pergunta - e o lamento - no ar. Se o jogo já não foi nada mau nestes contornos, o quão melhor teria sido se o nulo fosse quebrado numa fase mais embrionária da partida.