Ainda há três jogos pela frente, mas, no dia em que se celebrou a coroação do novo Rei de Inglaterra, o Benfica ficou cada vez mais próximo de conquistar a coroa do campeonato português. Os encarnados apresentaram a versão que os trouxe à liderança da Liga durante tantas jornadas e dominaram o SC Braga por completo, num jogo que era decisivo para as contas do título.
Rafa, que estava a ter uma noite desinspirada, foi o jogador que decidiu a partida, ao apontar o golo dos encarnados, quando o jogo já se aproximava para os 20 minutos finais. O SC Braga fica fora da luta pelo título e a bola passa agora para o FC Porto, que ainda vai a Arouca nesta jornada.
Não seria de esperar que, ao fim da época, Borja fosse um destaque na equipa bracarense, onde vinha sendo eterno suplente, mas é impossível não começar esta crónica a falar no lateral colombiano.
Titular no onze arsenalista, assim como Racic, no lugar do lesionado Al Musrati, o defesa esquerdo, que também passou sem grande sucesso pelo Sporting, foi fundamental na pior fase do SC Braga na primeira parte.
Uma fase que durou dois terços desse primeiro tempo. O Benfica entrou pressionante e Roger Schmidt, que surpreendentemente deixou Florentino no banco, deu sempre sinais de que este seria mesmo o jogo do título para os encarnados.
A equipa benfiquista praticou um futebol mais perto daquele que fomos vendo ao longo da época, com João Mário a ganhar mais influência, Neres a desequilibrar e Gonçalo Ramos importante a descer para abrir espaço para o ataque encarnado, que vinha quase sempre dos flancos.
Aursnes e Grimaldo tiveram espaço para criar e dos pés de ambos vieram cruzamentos teleguiados, com o golo como destino. Borja, numa espécie de missão impossível, deu, quase literalmente, o corpo às balas. Três cortes decisivos e umas quantas pancadas, que causaram tanto impacto que obrigaram mesmo o defesa a sair ao intervalo.
Para falar de um SC Braga em zonas de ataque, é preciso viajar até aos 30 minutos. Antes, a equipa de Artur Jorge sofreu para guardar o nulo no marcador. Niakaté, Victor Gómez e até Matheus Magalhães foram os rostos do sofrimento no setor recuado. A pressão benfiquista e a inoperância bracarense no miolo (André Horta esteve perdido) fizeram com que os bracarenses duvidassem de si próprios e recuassem com receio de sofrer numa fase inicial.
Quando o coletivo perde, é preciso alguém para assumir. Neste SC Braga, o mais normal é que esse nome seja Ricardo Horta, mas as coisas também não correram bem ao avançado. Por isso, apareceu Bruma.
Lembra-se daquele rapaz que apareceu a titular no pior Sporting da história? Dribles estonteantes, um impacto brutal, aparições decisivas nas seleções jovens e uma saída para o «Champion, Galasataray». A partir daí, a carreira de Bruma foi um atestado de irregularidade. Tanto aparecia na seleção, como era dispensado por clubes como Fenerbahçe e PSV, isto depois de ter estado com um pé e meio no FC Porto.
A carreira de Bruma é personificada no futebol do próprio. Uma série de dribles inesperados, que nem sempre saem bem. Quando saem, pode levar a equipa às costas e os colegas perceberam isso.
Dos pés do internacional português saíram os únicos lances de perigo da equipa de Artur Jorge, que percebeu, nessa fase, que para chegar com perigo à baliza de Vlachodimos a bola tinha mesmo de passar pelos imprevisíveis pés do extremo. Uma vez mais, tal como aconteceu com a gestão da sua carreira, Bruma não foi bem acompanhado.
Sem ninguém para apanhar Bruma, nem do lado do Benfica, nem do lado do SC Braga, o impacto do extremo, feitas as contas, acabou por ser anulado pelo pouco que a equipa arsenalista conseguiu fazer.
Artur Jorge tentou encontrar soluções para conseguir pôr um travão a um Benfica que deixou de atacar com tanta frequência a baliza de Matheus para passar a atacar com mais qualidade. Gonçalo Ramos rondou o golo e a ausência de Al Musrati sentiu-se mais do que nunca.
A espaços, a bola lá rondou a baliza de Vlachodimos, mas para um jogo tão decisivo esperava-se que o guardião grego tivesse de fazer algumas intervenções de dificuldade, o que acabou por não acontecer, uma vez que o SC Braga não rematou nenhuma vez à baliza.
Depois de tanto tempo à procura do golo em ataque posicional, foi no contra-ataque que a partida (e o campeonato?) ficou decidida. Neres colocou a bola na quase sempre exposta defesa do SC Braga e a partir daí foi só esperar que Rafa ganhasse em velocidade e fizesse o golo decisivo.
Rafa foi mais rápido, Rafa marcou «e o Benfica ganhou».
1-0 | ||
Rafa Silva 67' |
Depois de alguns jogos em dificuldades, o Benfica entrou com tudo para um jogo decisivo e o resultado até foi curto para a produção ofensiva da equipa de Roger Schmidt. Borja evitou os golos numa fase inicial, que, a acontecerem, podiam levar a partida para um nível bem diferente. Faltou eficácia, mas os sinais foram evidentes: este era um jogo de tudo ou nada e o Benfica deu tudo.
Acabar um jogo decisivo sem remates à baliza é um sinal claro do pouco ou nada que o SC Braga fez no ataque. Viver dos dribles de Bruma foi curto para uma equipa que sentiu dificuldades na pressão e nunca conseguiu jogar apoiado. A ausência de Al Musrati não explica tudo.