«Acho que vos encontrei um génio!»
Não foi à toa que, na Irlanda do Norte, terra que o viu nascer, os fãs de George Best criaram um adágio famoso: «Maradona good. Pelé better. George Best.». (1)
George Best nasceu em Belfast, no ano seguinte ao fim da
Segunda Guerra Mundial. Cresceu na capital da Irlanda do Norte, com uma bola sempre por perto. Desde cedo demonstrou uma grande habilidade para a prática do futebol.
«
Acho que vos encontrei um génio!» - Foi com estas palavras que Bob Bishop, o olheiro do
Manchester United para o Ulster (2), avisou o treinador Matt Busby da existência de um miúdo em Belfast capaz de fazer à bola com um pé o que muitos não conseguiam sequer fazer com as mãos.
Mudou-se então para Inglaterra apenas com 15 anos e rapidamente deu nas vistas nas equipas jovens dos diabos vermelhos. Estreou-se ainda com 17 anos pela primeira equipa do United contra o WBA numa vitória por 1x0.
Benfica, o adversário fetiche
9 de março de 1966 é a data que marca a ascensão definitiva de Best ao estrelato. O United defrontou o
Benfica nos quartos-de-final da Taça dos Campeões e, na primeira mão, quinze dias antes, a vitória por 3x2 sobre os portugueses não abria as melhores expectativas para o jogo de Lisboa frente a um
Benfica que nunca tinha perdido um jogo em casa nas competições europeias.
Best não teve piedade de Eusébio e companhia e marcou três dos cinco golos com que o
Manchester United cilindrou os encarnados (1x5). O público invadiu o relvado no fim do encontro e, por momentos, um adepto aproximou-se de Best com uma tesoura com a intenção de lhe cortar uma melena do cabelo para recordação. A polícia interveio e, felizmente, tudo não passou um susto.
A exibição tão avassaladora dos
diabos vermelhos levou a que a imprensa portuguesa, muito por culpa da longa cabeleira e génio de
George Best, apelidasse o norte-irlandês de
Quinto Beatle. A alcunha pegou e seguiu com Best para o Reino Unido. O próprio John Lennon sugeriu, mais tarde, que gostaria muito que Best se juntasse um dia a John, Paul, Ringo e ao outro George (Harrison) para tocarem umas músicas com os Beatles em Abbey Road.
Nas meias-finais contra o Partizan de Belgrado, o sonho do Manchester caiu por terra. Mas em Inglaterra, a equipa onde pontificavam, além de Best,
Bobby Charlton, Nobby Stilles,
Denis Law e Brian Kidd, conquistava troféus e maravilhava os fãs.
Em 1968, em
Wembley, novamente contra o
Benfica, mais um dia de glória na carreira de Best. Um golo no prolongamento que ajudou os mancunianos a vencer os lisboetas por 4x1 e a conquistar a primeira Taça dos Campeões da sua história, a primeira também do futebol inglês.
A decadência
No final dessa época recebeu, da France Football, a Bola de Ouro destinada ao melhor jogador a actuar no continente europeu. A fama chegou e consigo vieram as tentações, as mulheres e o álcool. Presença constante nos tablóides, o mau comportamento de Best trouxe-lhe problemas insanáveis no seio do clube de Manchester.
Depois de Busby sair, Best perdeu quem o defendesse e, em 1971, no ano em que o United desceu de divisão, abandonou o clube com 27 anos. Seguiu-se uma década de profunda decadência, levando o astro de Belfast a jogar na África do Sul, República da Irlanda, Inglaterra, Estados Unidos, Escócia e, por fim, na Austrália.
Acossado pelo alcoolismo, esbanjou a sua fortuna e arruinou os seus casamentos. Um dia, em jeito de brincadeira, afirmou, com um sorriso trocista, que, em 1969, houve um dia que tinha deixado as mulheres e o álcool e que tinham sido, por certo, os vinte minutos mais difíceis da sua vida.
Em 2002, teve que efetuar um transplante hepático em sequência de uma cirrose. Um ano depois já tinha voltado ao consumo de álcool e era capa da imprensa sensacionalista britânica por agredir a sua companheira. Em outubro de 2005, foi hospitalizado de emergência, em perigo de vida, devido a uma insuficiência renal.
Últimos dias
Os últimos dias foram passados ao lado da família e do amigo e companheiro
Denis Law. Dias depois, e com o fim a tornar-se inevitável, chegou uma missiva que emocionou George e todos que estavam com ele. No fim da carta podia ler-se
: «Do segundo melhor jogador de todos os tempos, Pelé».
A 20 de novembro deixou-se fotografar no leito do hospital com a mensagem para ser publicada na imprensa, onde apelava aos mais jovens que não morressem como ele.
Cinco dias depois, os diversos órgãos entraram em falência e, às 13:16, morria no seu quarto no Cromwell Hospital, na capital britânica. Foi sepultado em Belfast, a 3 de dezembro, acompanhado pelos velhos colegas e amigos, e o féretro percorreu as ruas de Belfast, escoltado por mais de cem mil pessoas, numa das cenas que mais comoveu a trágica Irlanda do Norte.
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(1) - «
Maradona bom. Pelé melhor. George o melhor»
(2) - Ulster é o nome de uma das quatro províncias históricas ou tradicionais da Ilha da Irlanda. O Ulster encontra-se dividido em nove condados, dos quais seis localizam-se na Irlanda do Norte, enquanto os restantes três encontram-se na República da Irlanda. A província não possui funções administrativas desde a partição da Irlanda em 1921.
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(1) Na antiguidade clássica, depois da fundação de Roma por Rómulo (753 a.C.), a cidade terá sido governada por sete reis, até o último, Tarquínio, ter sido derrubado, para depois ser instaurada a república romana que durou até aos tempos de César Augusto, que se tornou o primeiro Imperador romano em 27 a.C..