Primeira fase de sonho
Portugal chegara ao Mundial como um outsider, uma seleção promissora, baseada na grande equipa do Benfica e em jogadores do Sporting, que vira os dois grandes lisboetas a conquistarem troféus internacionais, mas que, como seleção, estava muito longe de convencer.
Na sua primeira participação, Portugal "passeou" na fase inicial, batendo a Hungria com dificuldade e a Bulgária com relativa facilidade. Seguiu-se o bicampeão Brasil, derrotado com um claro 3x1. De um momento para o outro Portugal tinha de ser levado em conta e Eusébio era visto como um caso sério.
Entre as oito melhores equipas do mundo, os lusitanos iriam enfrentar a Coreia do Norte e não podiam recusar o favoritismo.
Um susto
Depois do sucesso na primeira fase, os quartos-de-final reservaram um confronto épico. Novamente em Liverpool, a surpresa começou por ser enorme. Nem um minuto de jogo e já os coreanos marcavam. Aos 25' havia já um 0x3 no marcador.
«Não nos podemos esquecer que a equipa da Coreia tinha estado dois anos a preparar-se para a competição na Alemanha do Leste e já tinham eliminado a Itália. Tinham jogadas estudadas e mecanizadas e o seu capitão, que tinha uma meia elástica, era o organizador da equipa. Era ele que, ao receber a bola, via a equipa movimentar-se de determinada forma e colocava a bola num jogador em específico», recorda o Magriço José Augusto, antes de explicar o que mudou entretanto.
Asneiras e um esquecimento
«Depois do 3x0, o Otto Glória chamou-me e disse-me para o marcar, para que ele deixasse de ter bola. E foi assim que começámos a mudar o jogo», um desafio que teve um momento épico ao intervalo, onde um furibundo Otto Glória rebentou a escala. As palavras contadas por quem lá estava.
«Ao intervalo já tínhamos marcado dois golos, estava 3x2, mas o Otto Glória não nos perdoou. Disse-nos, com estas palavras: 'Seus filhos da puta, vocês deram-me a maior alegria de ter ganho aos meus irmãos brasileiros e agora estão a perder com uma equipa da Walt Disney. Vão lá para dentro, metam o colhão na garganta e comam o coreano vivo'»... E foram mesmo, como comprova o 5x3 final, com quatro de Eusébio e um de José Augusto, ele que contou outro detalhe delicioso.
«Depois o Otto Glória foi à conferência de imprensa, nós arranjámo-nos, vestimo-nos e fomos para o autocarro. Perguntou-se: 'Está tudo? Está'. Seguimos viagem e deixámos o Otto Glória a pé. Ele chegou ao hotel todo "fodido" e começou a berrar: 'Está tudo maluco? Já ganhámos o campeonato, é?'», revelou, entre sorrisos, uma história que outros juram ter acontecido no fim do jogo com o Brasil. Num ou noutro, aconteceu, e a verdade é que o treinador teve que ir à boleia dos jornalistas para onde se encontrava a seleção.
Portugal seguiria até à meia-final para cair às mãos da equipa da casa. O reencontro com os norte-coreanos teve de esperar décadas, até 2010 na África do Sul. À segunda ocasião, Portugal foi demolidor (7x0) e certamente que, para os lados da Coreia do Norte, ainda não se deve mencionar o nome de Portugal.
5-3 | ||
Eusébio 27' 43' (g.p.) 56' 59' (g.p.) José Augusto 80' | Pak Seung-Zin 1' Lee Dong-Woon 22' Yang Seung-Kook 25' |