De tão importante que é o futebol, são vários os momentos que ficaram irremediavelmente cravados no cérebro de adeptos pelo Mundo fora. Na Colômbia, um desses momentos é, e para sempre será, aquele que a seleção cafetera protagonizou no terceiro minuto de descontos do derradeiro jogo da fase de grupos do Mundial de 1990.
A Alemanha vencia por 1-0 no Stadio Giuseppe Meazza, com um golo de Littbarski que já tinha sido marcado tarde (89´), mas foi fora de horas que um poema se viu declamado, em uníssono pelos comentadores espalhados pelo globo, sem sequer ter estado antes em papel. Valderrama para Rincón, Rincón, para Hernández, e de volta ao camisola 10 antes de novo passe para Freddy Rincón que, isolado à frente da baliza, colocou a bola entre as pernas de Illgner. O golo mais festejado da Colômbia em Mundiais, não só pelos colombianos mas por toda a América do Sul, valeu o estatuto de melhor terceiro lugar e consequente passagem.
Tal como a lembrança da jogada em si, o golo ficaria permanentemente associado à memória de Freddy Rincón enquanto jogador. Ao mesmo tempo, não se pode dizer que tenha sido o único golo importante que o histórico médio marcou, nem a única capa de jornal que fez no decorrer de uma carreira longa, recordada por bom futebol e, não fosse também ele uma figura controversa, boas histórias...
Rincón e Valderrama foram os únicos jogadores na história do futebol colombiano a disputar três Campeonatos do Mundo. Esse golo frente à Alemanha seria o primeiro e último, no terceiro de 10 jogos que faria na competição, na soma de 1990, 1994 e 1998. Ainda assim, a relação entre Rincón e a maior competição de futebol começa bem antes, no dia em que nasceu.
Foi no dia 14 de agosto de 1966, precisamente 15 dias depois do cair do pano no Mundial de 1966, que o pequeno Freddy nasceu na cidade de Buenaventura. Pela data, não surpreende que o segundo nome do menino fosse Eusebio, tal como o de um certo português que tinha sido artilheiro com nove golos nessa edição do Mundial.
Seguiu para Bogotá, onde, ao serviço do Santa Fé, deu os primeiros passos no futebol profissional. Quatro temporadas num nível alto, antes do salto para o América de Cali, onde brilharia outros quatro anos antes de surgir a oportunidade do futebol brasileiro e europeu, ao serviço de clubes como o Napoli e o Real Madrid.
O primeiro passo fora do seu país natal chegou tarde para os padrões de muitos. Foi apenas aos 27 anos, mas com sucesso evidente. 10 golos nos primeiros 32 jogos pelo Palmeiras, onde se sagrou campeão paulista, cimentou o seu estatuto como uma das estrelas do continente sul-americano, e rumou a Itália.
Para o Napoli, a principal comodidade desta contratação foi o facto de Rincón não ter necessitado de qualquer adaptação ao continente. Num plantel com apenas dois estrangeiros (o outro era o defesa André Cruz, que ainda passaria pelo Sporting), afirmou-se rapidamente como uma das estrelas da formação que terminou em sétimo na Serie A.
A boa prestação em solo italiano, aliada a uma campanha de luxo na Copa América desse ano (1995), valeu ao gigante colombiano o interesse e consequente transferência para o Real Madrid.
O regresso ao Brasil foi o passo seguinte. Voltou a brilhar no Palmeiras, mesmo sem repetir o sucesso coletivo, antes de se transferir para o maior rival de uma forma inevitavelmente polémica. No Corinthians foi bicampeão brasileiro (1998 e 1999) e em 2000, já com o estatuto de capitão, levantou o troféu do Mundial de Clubes depois de uma caminhada em que foi decisivo na eliminação do... Real Madrid. Doce, doce vingança.
Falar de Rincón é falar da Colômbia. El Coloso foi grande parte dos maiores sucessos da seleção colombiana na sua inegável era dourada.
A já referida participação em três mundiais de forma consecutiva foi inédita na altura e ainda não foi repetida pela seleção cafetera, que aí viveu os seus anos mais doces. Com Valderrama, claro, mas também com outras personagens incontornáveis do folclore colombiano, como René Higuita e Faustino Asprilla.
Nem tudo é de recordar com sorriso rasgado, claro. Depois da histórica campanha em 1990, o Mundial de 1994 seria trágico para a Colômbia. Não pela eliminação na fase de grupos, mas pela forma o auto-golo do defesa Andrés Escobar frente ao anfitrião (Estados Unidos) resultaria no trágico assassinato desse jogador.
O Mundial de 1998 terminaria com nova eliminação na fase de grupos, mas não manchou a carreira de Freddy Rincón, para sempre recordada como uma das melhores no futebol sul-americano. Tão boa que foi difícil de terminar, com o colombiano a vestir a camisola do Timão até aos 37 anos, só para tentar regressar ao ativo em 2012, com 46 anos, para voltar a representar o América Cali. Chegaria a jogar um amigável, mas o longo período de inatividade impediu o regresso oficial, e ditou um último ponto final.